Um culto ao Império ( Encerrado )

*Havia uma movimentação de pessoas um tanto frenética por ali naquele momento. Conselheiros, emissários de outros reinos, soldados... Todos entrando e saindo do salão do Imperador. Instantes depois, com um grande estrondo, os portões dali seriam abertos, não, seriam escancarados com força e por eles sairia Renon, coberto em uma magnífica armadura prateada, manto verde voando ao caminhar, capuz caído e face um tanto transtornada. Logo avistou Ahmik, mas não parou de caminhar e sim o chamou para continuar caminhando com ele.*

Venha Ahmik, me acompanhe.

*Não diria muita coisa, e a direção que os dois tomavam era a do Catedral Imperial, a única construção de cunho religioso e oficial ali na cidade flutuante.*

*Aquela catedral era imensa, quase rivalizando com a torre da alta magia, suas abódodas douradas davam um belo espetáculo visual a quem observava-as ao longe. Renon e Ahmik caminhariam para uma entrada lateral onde o palácio se conectava diretamente ao santuário. O palácio tinha muitas outras ligações daquele tipo, fora as passagens secretas ignoradas por todos senão o próprio imperador. Os passos de metal de Renon tinham um ritmo acelerado, sua respiração estava acelerada também, ele quase bufava, parecia estar com raiva extrema.
Alguém deveria pagar por toda aquela raiva... e eram as portas que ele encontrava pela frente que sofriam sua furia: Renon as abria ainda ao longe, com gestos bruscos dos braços que demonstravam o movimento telecinético que seus poderes faziam para abrir os portões com violência. Seguiriam em silêncio por grandes corredores repletos de vitrais com os mais diversos deuses, dos mais diversos credos e das mais diversas raças. Logo os dois chegariam a um salão eclesiastico exclusivo da família imperial. Estava vazio, exceto pela mobília, finamente ornamentada. Pilastras de mármore e uma grande mesa, com um trono a sua cabeceira, terminavam de compor o cenário. Assim que entraram, Renon gesticulou e fechou as portas do local atrás de si... apoiou-se com as duas mãos cerradas sobre a mesa, cabeça baixa, rosto ocultado pelo capuz...*

Se você tivesse a chance de escolher entre o poder de comandar reinos inteiros, mas abdicar de todo o resto de sua vida, e a capacidade de combater o que há de maligno diretamente e em qualquer lugar onde possa existir injustiça... O que você faria, Ahmik?

*A voz dele era arrastada, pesarosa, apesar de estar claramente furioso, sua voz era carregada de um lamento que beirava o angustiante. Sua posição, curvado, mãos segurando o peso do corpo contra a mesa, parecia querer dizer que aquele homem, que tinha o peso de um império das costas, agora carregava todo o peso de um mundo.*

*Renon apoiava-se a mesa com as duas mãos, numa posição que revelava exaustão, não física, mas esgotamento mental.*

Não tenho tempo, nem muitas palavras para falar nessa hora. Estou sendo pressionado a regimentar e regulamentar o culto religioso nas fronteiras do império... e tornar qualquer culto fora deste padrão... algo... criminoso.

*Suspirou, consternado enquanto falava.*

Sou questionado sobre a demora em eleger os líderes de cada setor, e que isto está custando a integridade do Império... Que estou deixando as coisas seguirem... soltas...

*Ergueu a cabeça observando os vitrais.*

Será mesmo? Eu mesmo me pergunto isso.
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Ahmik se deparou com uma grande pergunta, mas nem mesmo podia crer nela mesma. “ Se Renon era o Supremo líder a quem dirigiriam sua atenção, quem é que cobrava dele?”. Tratou de observar o Imperador e escutar o peso que carregava consigo. Ahmik gostava de ponderar as coisas, para isso precisava saber mais.

- Meu senhor, minha mente não apreende o sentido que queres expressar! Mas quanto aos cultos...

Ahmik agora estava um tanto receoso

-....tenho interesse especial acerca desse assunto.

Não se moveu do lugar, apenas esperou que Renon relaxasse um pouco e pudesse ouvi-lo melhor

- Existem diversas formas de divindades, e eu creio que seria bom informar ao Império, que não são só pessoas com quem vão trabalhar, são pessoas com fé. Transformar em criminosos atos de fé, o senhor me desculpe, é um tanto perigoso!
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Perigoso... ultrajante, inaceitável... Mas há poderes ocultos que pregam que a ordem só pode ser conseguida com a retidão moral de um culto único, padrão, capaz de dar esperança e exigir servidão. Pelos deuses, minha própria família descende de um Avatar do deus da Ordem! Como eu poderia lidar com isso?

* Ergueu-se totalmente, virando-se na direção de Ahmik.*

Preciso de aliados internos, Ahmik. Forças que me apóiem quando necessário, para fazer o que é certo e melhor para todos no império. Estou as voltas com um dilema, pois a santa Inquisição ameaça impor um Sacro-Estado, um governo Teocrático, baseado numa fé que não é compartilhada por todos, mas sim imposta.

*Olhou para Ahmik agora.*

Ahmik... Serei direto. Preciso de alguém confiável a frente da casa da religião imperial. Alguém que possa manter o que eu prego, a liberdade de religião, dentro dos limites do que é certo, correto, e caçada aos cultos devassos e vis que existem...
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Ahmik sentiu-se desconfortável com a situação. Estava tentando ampliar a visão para perceber o que acontecia com o Império. Mas algo dizia-lhe que o poder tinha sido distribuído demais, ou Renon teria perdido o controle que antes possuía, pois já não era o mesmo ponto de vista que tinha quando entrara para os Cavaleiros Imperiais

- A Inquisição?

Ahmik parou para avaliar a situação, ouvira falar daquele órgão do Estado, mas até onde sabia o Imperador ainda controlava tal órgão. Contudo o que ouvira foram boatos, coisas que se ouvem em tavernas

- Mas esse órgão é mesmo instituído de poder, meu senhor? Ahmik suspirou

- Como disse, Renon, tenho anseios por estar a frente da religião, mas...

uma pausa, uma expressão com um pouco de receio

-... não compactuarei com forças agressivas subjugando pessoas! Existem muitos meios, e deviam-se poupar recursos bélicos com almas perdidas, tenha vista os recentes fatos com a entidade Apocalipse....
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Justamente este evento foi o que desencadeou a onda de contestação e de desgosto dentro das castas de liderança do Império. E sim, sei o que pensa... a Inquisição não tem poder maior que o meu... Mas ela foi criada oficialmente para prevenir que qualquer ameaça ponha em risco o Império... Inclusive, por um motivo ou evento qualquer, ameaças perpetradas pelo próprio Imperador... São o que chamamos de "Garantia" de que tudo continuará indo bem, rumo a um destino próspero... O ressurgimento destas tais Sombras de Apocalipse, somados a rebelião ysgardiana e a casos de insubordinação clara dentro do exército. Tudo ao mesmo tempo. Isso contribuiu...

*Olhava os vitrais do lugar*

Ahmik, eu tento ser justo e igualitário. Quero que todos possam viver em paz, das suas próprias maneiras. Mas não sou uma figura da religião. Não tenho como combater argumentos sacros com argumentos sacros. Não é minha escola, minha fundação. Preciso de alguém que saiba o que fala e faz.No caso, seu nome já foi levantado por mim, e criticado por eles... Parecem não gostar de alguém que não seja do mesmo "radicalismo" deles.Por isso mesmo eu gostaria que considerasse isso, mesmo com este tempo conturbado que eu prevejo estar chegando sobre nós..
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Ahmik expressou-se gentilmente, apesar de que muitas coisas desagradáveis passavam e pesavam na sua escolha, um tanto tendenciosa pelo desejo de estar a frente de algo que lhe chamava a atenção.

- Como disse, Imperador, não está só.

Sorriu brevemente, pois deixou o tom ficar sério para prosseguir

- Penso que existe uma úlcera crescendo dentro do Império, pois poder demais machuca a alma. Saiba que podes contar comigo e com os meus serviços Imperador, mas saiba também que no momento eu não tenho medo da guerra, só tento evitá-la por causar danos demais, ainda que havendo outros meios.
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Não sei se haverá uma guerra, Ahmik. Mas creio na vitória... E para haver uma vitória, é preciso haver derrodatos. E é isso que me preocupa...Agradeço seu apoio, meu caro. Farei pessoalmente o cerimonial de sua indicação para Sumo-Sacerdote do Culto Imperial... Mais uma vez, obrigado.