Combata Fogo com Fogo (Encerrado)

Malak:

Havia dado à gaisra a motivação final que ela precisava para ser ainda mais eficiente como sua montaria. Traição jamais deveria ser tolerado ali, não por aquele povo tão orgulhoso e guerreiro. Malak sustentou-se no pescoço da gaisra pelo tempo suficiente para conjurar o pilo.

Naquele momento em que concentrava-se para mirar, tudo parecia em silêncio e tudo ao redor estava quase em câmera lenta para a campeã. Existiam apenas Pyron e sua montaria, nada ou ninguém além deles. Malak quase não sentia os poucos movimentos da gaisra para manter-se estável naqueles segundos que pareciam durar muito mais que o real. Inspirou lenta e profundamente, determinando ao final da inspiração onde mirar e, ainda mantendo os pulmões cheios, arremessar o pilo. Estreitou o olhar enquanto a lança cortava o ar naquela distância que diminuía pouco a pouco, esquecendo-se até de expirar ao final.

Mas Malak respirou… E sorriu ao ver o pilo atravessando Pyron no meio do tórax. Sorriu ainda mais ao vê-lo tombar inerte sobre a cabeça de sua enorme montaria, desequilibrando-a o suficiente para que se chocasse com uma das montanhas vulcânicas de Firelands. A ditadura de Pyron havia chegado ao fim.

Pouco a pouco os sons da guerra voltaram aos seus ouvidos e seu olhar foi desviado para o que acontecia ao redor, buscando inclusive Seeje por momentos antes de falar com a gaisra, quando já estivesse desmontada e sobre a arena.

- Obrigada. Eu não teria conseguido sem você. Lamento diariamente que a minha decisão tenha levado à sua morte. Teria sido diferente se eu soubesse as consequências. Prometo, no entanto, de que retornará ao seu descanso junto à Grande Chama e que sempre honrarei sua lembrança. Todos em Firelands honrarão.

Narrador:

Ao ter seu peito perfurado pelo pilo, o corpo de Pyron inflamou-se imediatamente. Ele soltou um urro assustador de dor que ecoou pelos céus vermelhos, enquanto sua chama deixava lentamente seu corpo. A grande montaria chocou-se contra a montanha e houve uma grande explosão que destruiu o ex-regente e seu animal.

O poder de Pyron não era mais sentido. Sem sua chama para conflitar com a de Malak, a tempestade cessou e o campo de batalha ficou mais silencioso. Os soldados de ambos os lados testemunharam o combate e os homens de Malak comemoraram assim que Pyron explodiu contra a montanha. Todos sabiam que a guerra havia terminado. Poucos soldados de Pyron continuaram lutando. A maioria rendeu-se, sabendo que não adiantava mais lutar uma vez que seu líder estava morto.

Já sobre a arena, a gaisra assumiu sua forma humanoide, embora ainda espectral, e respondeu à Malak:

- O que aconteceu foi culpa daquele homem, Malak, e não sua. Eu daria minha vida à você de qualquer maneira. Mas eu não entendo. Ainda não sinto a Grande Chama. Os espíritos ainda estão sem rumo. Isto deveria mudar com a morte de Pyron?

Malak não encontraria Seeje com o olhar em lugar algum. Não demoraria até que um membro da cavalaria alada fosse até a arena, pousando ao lado de Malak. O homem não notaria a gaisra, já que apenas Malak conseguia ver os espíritos. O soldado disse:

- Senhora! A guerra acabou! O exército de Pyron está se rendendo! Mestre Seeje mandou-me avisa-la de que ele voltou para a fortaleza à procura de uma assassina!

Malak:

Sentia-se cansada e os efeitos da lâmina fria em seu corpo não deixavam de ser sentidos, bem como aqueles inúmeros cortes causados pela montaria de Pyron. Sobre a arena, Malak não conseguiu evitar a peocupação ao ouvir a pergunta da gaisra.

- Gaisra, eu cometi um erro ao destruir o Oráculo ao saber que ele limitava meus poderes. Eu não sabia que ele era o guia de todos para a Grande Chama. Mas eu resolverei isso, eu prometo. Retornarão todos à Grande Chama para descansarem em paz. Eu prometo.

Virou-se para o soldado assim que ele pousou próximo de onde estavam, ouvindo o que foi dito.

- Leve-me até lá, soldado. - despediria-se da gaisra com não mais que um olhar e as palavras ditas anteriormente. Aguardaria ser conduzida pelo membro da cavalaria até o local por onde Seeje entrou no castelo. Ainda precisava resolver aquilo, ainda precisava deter Insinerahin e preservar a vida de Sgimund.

Narrador:

- Eu sei que resolverá, Senhora. Muito obrigada. - Respondeu a gaisra, permanecendo na plataforma da arena em sua forma humanoide espectral. Ela parecia ter voltado ao seu primeiro estado, uma espécie de torpor entre o mundo material e o espiritual. O calor da batalha havia focado seu espírito, mas agora ela voltava a este transe causado pelo vagar entre os dois mundos.

O soldado cumpriu a ordem e levou Malak para longe da arena elevada e para a fortaleza de Pyron. O exército de Malak lentamente invadia a fortaleza e as forças remanescentes no interior da construção eram rendidas. Seguindo as instruções de Seeje, o soldado levou Malak até a entrada de uma das torres. Desmontou e pediu para que a campeã o seguisse até o primeiro andar, acessível por uma escadaria em espiral no interior da torre.

Assim que surgiu no hall de entrada da fortaleza, os soldados no interior ovacionaram Malak como ela nunca havia visto antes. Seu nome era repetido em uníssono pelos homens e mulheres flamejantes de seu exército. Enquanto escutava as congratulações, Malak sentia a lâmina fria pulsar levemente dentro de si. O ferimento ficava pior a cada instante, o sangue escorria continuamente e a aura de gelo da lâmina apenas aumentava. A peça em suas entranhas a enfraquecia, causando leve tontura e mal-estar, como se ela estivesse doente. (Como se fosse kriptonita para o Super-Homem)

Os soldados abriram caminho para que Malak pudesse descer até o subterrâneo da fortaleza. Bastava seguir a trilha de homens enfileirados pelos corredores largos para alcançar uma sala que possuía uma pequena porta, pela qual passava apenas uma pessoa por vez. Pyron nunca passaria através daquele espaço, portanto, era de se imaginar para quê aquela sala existia.

Os soldados se afastavam no corredor para permitir a passagem de Malak até que a campeã avistasse Seeje parado em frente à pequena porta. Ele ouviu o rebuliço dos soldados e olhou para trás, avistando Malak. O flamejante não se importou com qualquer conduta de postura e abraçou Malak pela cintura fortemente. Foi quando percebeu que ela estava ferida. O sangue que escorria dos cortes do rabo da montaria de Pyron e o ferimento da lâmina gelada deixou os braços de Seeje molhados. Ele disse então, fitando-a:

- Eu sabia que destruiria aquele crápula! Mas você está... ferida gravemente!

Malak:

Malak ainda prestou um pouco de atenção na gaisra enquanto ela retornava ao estado anterior. Era principalmente por ela que precisava consertar seu erro, reajeitar o que havia bagunçado sem qualquer intenção. Suspirou brevemente antes de voltar-se para o soldado e sua montaria. Durante aquele breve percurso a campeã observou o avançar de suas tropas, rendendo aqueles que insistiam em lutar por um regente morto e invadindo o enorme castelo de Pyron. Seguiu o soldado escada abaixo, apoiando-se vez ou outra na parede quando sentia-se mais fraca ou um pouco desequilibrada.

Diante de toda aquela manifestação Malak cumprimentou-os com um sorriso cansado, ainda que tivesse no olhar o brilho da vitória sobre o tirano. Cumprimentava-os discretamente à medida que caminhava por entre as fileiras. Cada passo agora, longe do calor da batalha, parecia fazer com que a lâmina se movesse e rasgasse um pouco mais de sua carne. Em momentos apoiou-se no soldado que a guiava mas logo preocupando-se em se endireitar e seguir adiante.

Alívio e segurança era o que sentia ao ver Seeje outra vez, ainda que ela fosse imensamente mais poderosa que ele. A campeã abraçou-o, deixando um pouco de seu peso para que ele a sustentasse, para que a ajudasse a se manter de pé. Aqueles segundos nos braços do mestre de armas ainda conseguiam ser mais doces, mais agradáveis que qualquer vitória que teve. Afastou-se um pouco, colocando a mão sobre o corte e respirando profunda e lentamente antes de falar.

- Insinerahin. Aquela… vadia maldita. Eu não sabia que ela também podia mudar sua aparência, parecia o Sigmund. Eu confiei… E eu sinto frio, sinto que aos poucos fico mais fraca, mais tonta. É uma lâmina, Seeje, que ela comprou em terras geladas, não me lembro ao certo. Sei que não consigo retirá-la de mim e não sei em quanto tempo mais esse frio me derrubará. - falou devagar, respirando mais profundamente algumas vezes e apoiando-se parcialmente no corpo do mestre de armas. - Eu preciso de ajuda.

Narrador:

- Sim, é uma maldita mesmo! - Concordou Seeje sobre Insinerahin, passando o braço de Malak por cima de seu pescoço para lhe dar apoio. - Ela enganou a todos! Assim que invadimos o castelo eu tentei pegá-la, mas ela me ludibriou até a arena de Pyron, onde fiquei preso. Eu não sabia que ela tinha Sigmund. Deixe-me ver isto.

Ele deixou Malak apoiada à parede e analisou o ferimento. Chegou a afastar as paredes do corte com os dedos ligeiramente, sabendo que aquilo causaria dor a ela, mas precisava ver melhor. Disse em seguida:

- Seja lá o que for esta porcaria, não quer sair e está impedindo o corte de se cauterizar ou queimar. Eu vou tentar arrancar isto de você, mas antes... Sigmund precisa de nós. De você, especificamente. Aquela cadela está com ele dentro deste cômodo e disse que irá matá-lo se qualquer outra pessoa entrar, exceto por você. É a única coisa que está me impedindo de invadir esta sala e matar logo essa vadia.

Seeje e os soldados permaneceram em posição, esperando a próxima ação de Malak.

Malak:

Malak aceitou a ajuda oferecida por ele, recostando quase todo o peso do corpo na parede. Estava um pouco já ofegante e Seeje mexendo em seu corte não fez com que se sentisse melhor. Abafou um gemido, ainda que sua face demonstrasse a dor que sentia.

- Não sei se conseguirei ajudá-lo assim. Estou muito tonta, às vezes fraca… E parece só piorar desde que acabei com Pyron. Não entendo… - desencostou-se outra vez, caminhando rumo ao pequeno cômodo, apenas parando para dar um recado a Seeje. - Não hesite em entrar caso preciso. - Quase um "por favor não me deixa sozinha desse jeito ou vou me fuder", em uma linguagem mais comedida.

Malak empurrou devagar a porta e entrou naquele cômodo.

- Insinerahin, vamos acabar logo com isso. Suas artimanhas já me irritaram o suficiente.

Narrador:

- Não hesitarei. Estarei aqui, Malak. - Respondeu Seeje rapidamente, segurando o braço dela e dando-lhe um rápido beijo de boa sorte. Já haviam passado por tantas situações de quase morte no mesmo dia que as pequenas despedidas haviam se tornado um hábito. Enquanto Malak adentrava o quarto, ele deixou seus homens preparados para agir a qualquer momento.

A primeira coisa que Malak notou era que aquele cômodo era totalmente diferente em relação ao resto do castelo. O formato das pilastras, a forma como as paredes se juntavam ao teto e a cor mais amena do quarto. Havia uma cama enorme coberta com lençóis de tom rosa, encostada à uma das paredes. Pelo chão se via bonecas de pano, utensílios em miniatura e outros brinquedos do gênero. Havia uma penteadeira do outro lado com um gigantesco espelho e escovas espalhadas pela superfície. Aquele era, claramente, um quarto de menina.

O quarto não estava bem cuidado, entretanto. Tudo estava coberto com uma camada de pó e a maioria dos objetos estava quebrado, mostrando que o quarto havia sido abandonado há muito tempo. Havia um rastro de sangue no chão que levava até o outro lado do cômodo retangular, como se alguém tivesse sido arrastado. Bastaria que Malak seguisse o rastro para encontrar Insinerahin.

A assassina estava sentada sobre um móvel encostado à parede. Em seu colo estava Sigmund, ainda sem falar e em choque. Um dos braços dela estava ao redor do pescoço dele, enquanto a outra mão segurava uma lâmina contra o pescoço do transmutador. Na parede atrás dos dois havia uma grande pintura de Pyron. Ao avistar Malak, Insinerahin deu uma pequena risada e falou:

- Então você saiu vitoriosa. Sinceramente achei que Pyron iria vencer. Não fazia diferença para meus planos quem ganhasse, mas confesso que fiquei mais feliz com a morte dele. Ele merecia. Sim, ele merecia. Sabe onde está, Malak? Este é o meu quarto. Foi aqui onde eu cresci. Era aqui onde eu dormia após os treinos de Pyron. Eu era a preferida dele, sempre fui. Até você chegar.

Malak:

As despedidas haviam mesmo se tornado um hábito essencial e dotados de um carinho que dificilmente poderia ser medido. Malak logo em seguida entrou no pequeno cômodo e estranhou uma decoração tão peculiar, tão infantil e feminina. Um quarto como um que ela mesma nunca havia tido, já que sua infância havia sido no deserto. Chegou a dispersar-se e pensar que, se algum dia fosse mãe de uma menina, decoraria o quarto com tanto esmero quanto aquele foi decorado por sabe-se lá quem.

Tudo tão empoeirado e mal cuidado denunciava que a garota que ali dormia havia crescido e talvez seus interesses estivessem já bastante diferentes de bonecas, escovas e penteadeiras. O rastro de sangue fresco chamou sua atenção rapidamente, fazendo com que o seguisse até o outro lado do cômodo.

O olhar foi logo direcionado a Sigmund, preocupada mais com seu estado que com a própria fraqueza e dores que sentia por todos os ferimentos. Não demorou a olhar Insinerahin, sorrindo suavemente.

- Ciúmes? Então foi esse o motivo para trair Pyron? Podia simplesmente ter me matado, tão eficiente quanto parecia ser. Na verdade, seriam ciúmes ou inveja? Enfim, não estou aqui para discutir. Deixe Sigmund e vamos resolver tudo agora. Na mesma arena onde desafiei Pyron. - aproximou-se um pouco mais, esperando que se fato ela aceitasse. Insinerahin devia já saber que Malak estava fraca, debilitada pela lâmina, pela ferida e por tantos cortes. Ela tinha chances.

- Vamos. Ou será covarde?

Narrador:

- Matar-lhe?! Não... Isto teria sido muito rápido. Eu queria que você visse pelo que passei, que sentisse isto. Dia após dia após dia, tudo o que Pyron falava era sobre você. Ele disse que eu me tornaria campeã, que eu seria seu braço direito por longos séculos em Firelands. Então você veio e estragou tudo. Todos os meus sonhos...

A mão de Insinerahin começou a tremer, enquanto seu rosto se enchia de lágrimas. A faca fez um pequeno corte no pescoço de Sigmund, por causa da tremedeira, o que fez o transmutador se agitar mais uma vez. Insinerahin respirou fundo e, permanecendo na mesma posição, disse:

- Eu não sou como você ou Pyron, Malak. Eu não ligo para honra. Não preciso lutar em uma grande arena em frente a um público. Eu fui treinada para enganar, infiltrar e envenenar. E eu envenenei você. - Insinerahin retirou um dos braços do pescoço de Sigmund, mas manteve a lâmina ali com a outra mão. Usando a mão livre, retirou um pequeno objeto esférico de suas vestes. O objeto emitia um bafo gelado e era encrustado em runas mágicas. Insinerahin apertou algo naquele objeto e permaneceu observando Malak.

A Senhora das Chamas sentiu a lâmina dentro de si emitir mais poder, expandindo a aura gelada do objeto. A aura congelante agora causava dor em Malak e ela sentiu parte de seus órgãos congelarem. Agora estava realmente debilitada e teria dificuldade em permanecer em pé. Insinerahin soltou uma risada e jogou Sigmund para o lado, levantando-se e indo para perto da guerreira, dizendo:

- Eu apenas começo lutas que sei que vou vencer. Chame de trapaça, chame do que quiser. Eu a derrotarei, Malak, e quando deixar esta sala, serei aclamada a nova regente de Firelands! Mas não se preocupe, eu não a matarei. Eu a prenderei no covil do Oráculo, onde você ficará pelo resto da eternidade como a nova guia da Grande Chama. Você passará a eternidade guiando os renascidos, milhares de almas com potencial para serem os novos campeões, enquanto você será esquecida. Você saberá como é ser esquecida!

Enquanto Malak sofria os efeitos da aura gelada, Insinerahin correu até ela com sua faca. Ela tentaria segurar o braço da campeã e golpeá-lo, fazendo sua faca atravessar o antebraço de Malak de forma perpendicular ao mesmo. O objetivo era causar mais dor em Malak e fazê-la sangrar até que estivesse fora de combate.

Malak:

Tentava manter-se calma, centrada no que poderia fazer para que aquilo terminasse logo e de forma positiva, claro, para ela e Firelands. Ter uma descontrolada e mimada como regente de Firelands não seria nada adequado, nada bom para uma terra já devastada. Malak passou a mão pelo rosto, sentindo aqueles estranhos calafrios, aquela fraqueza que parecia crescente. Olhou para Sigmund brevemente, quase como se pedisse um pouco mais de calma apesar de tudo.

- Sim, você é uma covarde. Não sei como Pyron foi capaz de criar alguém como você… Sem honra, sem capacidade para vencer sem trapacear. Então é isso… Envenenou-me. Que….. - curvou-se para frente, comprimindo com a mão o corte onde estava a dita lâmina. Devagar Malak ajoelhou-se, apoiando-se no chão com uma das mãos.

- Será… morta por traição. Morrerá, Insinerahin, ainda que tenha… - falava mais baixo, entre gemidos contidos - … ainda que tenha sucesso em fazer o que pretende.

Ao vê-la correndo em sua direção, Malak buscou forças para desviar ou para barrá-la com qualquer objeto que conjurasse. Mas estava muito fraca, muito afetada pela dor crescente que parecia aos poucos congelá-la de dentro para fora. Não conseguiu escapar do golpe de Insinerahin, tendo a faca atravessada em seu antebraço. Gritou de dor, soltando o ferimento do abdome para pressionar um pouco acima do corte e com dificuldades para manter-se até mesmo ajoelhada.

Olhou Sigmund. Ainda tinha esperanças de que ele a ajudasse, desejava que Seeje entrasse, que a salvasse. Não conseguiria sozinha, não tão debilitada. Sua visão ficava um pouco embaçada com o passar dos minutos, os calafrios persistiam e a dor da queimadura pelo frio era impiedosa em seus órgãos.

- Seeje…

Narrador:

Insinerahin deu uma risada insana depois de ter golpeado o braço de Malak de forma bem sucedida. Ela se deliciava com o sangue da campeã e destilava sua vingança lentamente. Ela sentia que seu momento de triunfo estava próximo.

Ainda com forças para lutar, Malak retirou seu punhal e tentou golpear a assassina. Insinerahin se desviou facilmente e deu um chute na mão de Malak, desarmando-a.

O punhal rolou para perto de Sigmund, que ainda estava no chão e tentou reunir forças para segurar a arma. Enquanto isso, Insinerahin segurou o ombro de Malak com a mão livre e tentou golpeá-la no coração para acabar com a luta de uma vez por todas.

Sigmund não conseguiu alcançar o punhal à tempo. Malak sentiu o golpe dilacerar seu coração enquanto a vida se esvaía lentamente de seu corpo. Enquanto tudo ia ficando borrado, confuso e preto, Malak ouvia a risada de Insinerahin e o desespero de Sigmund. A última coisa que ouviu foi o som da porta do quarto sendo arrombada e Seeje e seus homens adentrando o cômodo. Depois disto, a campeã não saberia o que aconteceu, pois perderia a consciência.

Apenas para despertar em seguida. Mas não estava mais no quarto de Insinerahin. Não havia mais assassina, Sigmund ou Seeje ao seu redor. A lâmina gelada não mais feria suas entranhas. Estava em um vale muito longo e ao horizonte avistava o que parecia ser o sol, mas era muito maior e queimava de maneira muito mais intensa. Era a Grande Chama. Mas estava muito longe, fora de seu alcance.

Não demorou muito até que ouvisse a voz de gaisra. Estava em sua forma humanoide e agora era, aparentemente, de carne e osso. Ela se aproximou de Malak, fitando-a surpresa:

- Não... Você não deveria estar aqui, Senhora! Você deveria ficar e governar Firelands! O que aconteceu?!

Malak:

Malak estava , como poucas vezes após ter se tornado campeã, indefesa e assustada. Suas tentativas haviam sido falhas, nem mesmo havia sido capaz de imaginar que aquela assassina tramava contra si. Havia derrotado Pyron e agora estava nas mãos de Insinerahin. Precisou apoiar-se no chão com a mão que havia chutada para conseguir permanecer de joelhos. Olhou apenas de relance para Sigmund, apenas até sentir as mãos da assassina em seu ombro.

Uma dor aguda. Ainda olhou aquela mulher uma última vez antes de perder as poucas forças que a mantinham de joelhos. Os sons desapareciam lentamente, como se estivessem abafados por algum objeto, por paredes… A visão tornou-se preta em pouco tempo, junto do silêncio absoluto.

…

Abriu os olhos rapidamente confusa com o lugar onde estava, com o que havia mesmo acontecido. Levantou-se e tocou seu braço, o abdome, o peito… Nenhum corte, nenhum sangue. E ninguém que esperava rever. Um vale, uma grande chama… A Grande Chama! Malak passou a mão no rosto à medida que tudo se tornava mais claro, à medida que tudo entrava em uma ordem mais lógica.

Virou-se surpresa, quase assustada, ao ouvir a voz da Gaisra. Tocou-a no braço, não era mais como antes, como alguém translúcido e sem corpo. Ali parecia normal, parecia viva, assim como ela.

- Insinerahin, gaisra. Ela me envenenou, antes mesmo da luta contra Pyron. Algo gelado, muito gelado que ela enfiou aqui… - mostrava com um gesto onde havia sido golpeada anteriormente. - E eu consegui resistir, eu consegui derrotá-lo. Mas quando voltei… Ela ameaçava Sigmund e apertou algo que segurava. Eu não consegui reagir, eu perdi as forças… Meu braço… E depois enfiou o punhal no meu peito. Eu morri. - duas, três lágrimas escorreram por seu rosto enquanto ainda a olhava. - Eu falhei. Outra vez, gaisra.

Afastou-se um pouco para secar o rosto, ainda que algumas outras insistissem em umidecer sua pele. Sentou-se em uma das rochas mais próximas antes de retomar a conversa.

- Eu fui tola, fui ingênia. Burra! Muito burra em dar àquela covarde um mínimo de confiança. Seeje me avisou uma, várias vezes. E eu insisti. E agora não há Oráculo, não há Grande Chama e se quer saberei se Seeje… Nem conseguirei saber como tudo terminou. Não sei o que fazer. Ou se há como voltar. Não sei, não pensei em ser traída, não pensei que morreria assim.

Narrador:

A gaisra sentou-se ao lado de Malak enquanto a campeã relatava o ocorrido. Sua ex-montaria parecia mais focada agora. Não estava naquele torpor causado pelo conflito do mundo material e espectral. Ela agia normalmente, o que seria outro indicativo de que, onde quer que estivessem, Malak estava no mesmo plano que ela. A gaisra não entendia plenamente o que acontecia, pois não acompanhou o andamento dos fatos, não sabendo quem era Sigmund, por exemplo. Mas ela sabia o mais importante: Malak teoricamente derrotaria Pyron e assumiria o controle. Ela comentou:

- Insinerahin? Nunca ouvi este nome, Senhora, mesmo quando servi aos outros campeões e quando ficava próxima de Pyron. Eu achei que derrotar o Lorde seria o último passo. Eu não sei muito bem o que aconteceu, mas eu sei que seu lugar não é aqui, Senhora. Você precisa voltar e fazer justiça. - A gaisra parou por um momento, olhando para baixo, suspirando e continuou:

- Mas eu também não sei como. Eu e outros espíritos já tentamos andar na direção da Grande Chama, mas é em vão. Por mais que viajemos, a Grande Chama sempre continua no horizonte, sempre distante. Sem Oráculo, não há como alcançá-la. Mas você vai voltar, Senhora. Se alguém tem o poder para isto, é você, com certeza. - A gaisra parou de falar, mas deu sinais de que continuaria. Ela fez uma pausa estranha e continuou logo em seguida:

- Malak, quero lhe dizer uma coisa. Acredite, não gostaria de ter esta oportunidade se soubesse que nos encontraríamos deste jeito, mas já que estamos aqui... Se já não aconteceu, quero que saiba que apoio sua união com Seeje. O sentimento que ele tinha por mim nunca foi correspondido e acho que ele confundiu suas vontades com o desejo de ser um campeão. Eu pedi a ele, em meus últimos suspiros, que sempre ficasse ao seu lado e me deixaria muito feliz se vocês fossem um casal. Eu desejo, com meu coração draconiano, que vocês tenham filhos e que esta linhagem seja a principal de Firelands. Todo flamejante ficaria muito orgulhoso disto.

Malak:

- Insinerahin aparentemente era criada por Pyron para ser uma campeã, era a preferida dele. "Até eu aparecer", ela me disse. Eu sabia que derrotá-lo não seria o último passo. Eu sabia que ainda havia ela no meu caminho porque tive essa lâmina enfiada por ela. Era gelada…

Permaneceu olhando a Grande Chama enquanto gaisra falava sobre como tentavam chegar, sobre como parecia tão longe. Precisava consertar isso, precisava voltar. Precisava arrumar tudo! Estava cabisbaixa quando ouviu aquela revelação inesperada e que trouxe ainda mais tristeza por estar naquela situação.

- Seeje… Há meses eu já sentia algo mas não tinha certeza de nada… Nem se ele corresponderia. Ele parecia pensar em você todo o tempo, gaisra. - calou-se por algum tempo, olhando-a com um sorriso triste e breve - Agradeço seus desejos, seu apoio. Mas não sei se agora poderei ficar junto dele ou ter filhos…

Levantou-se pouco depois e andou na direção da Grande Chama. Ela precisava alcançá-la, precisava renascer e precisava encontrar um modo de guiá-los a ela. Pensou, pensou mais um pouco, ponderou sobre ser impulsiva e seguir os instintos e sobre pensar e planejar. Mas ela sentia-se como o fogo às vzs, sentia-se difícil de controlar e ser racional.

- Eu destruí o Oráculo. Parte do meu poder veio dele, veio do punho da fênix. Talvez eu possa… recriá-lo. - aquela, claro, era apenas a primeira de talvez uma séries de ideias absurdas que surgem em meio ao desespero.

Um pouco mais afastada de sua montaria, Malak concentrava-se, tentava uma forma de concentrar poder suficiente para formar um Oráculo sem nem mesmo saber se era possível. E que jeito era melhor do que a tentativa? Que voltasse ao poder anterior a destruição de Pyron, não se importava. Queria uma solução, queria tentar.

Narrador:

A gaisra ficou em silêncio. Por mais que quisesse ter uma visão otimista das coisas, a realidade era que nem ela mesma sabia como Malak poderia voltar. Ela permaneceu sentada, deixando a Senhora das Chamas sozinha em seus pensamentos e planejamentos.

Assim que Malak começasse a concentrar poder, uma chama surgiria à sua frente. Ela logo notaria que conseguiria moldar esta chama, brincar com ela, fazer com que tivesse a forma que desejasse. Assim como um artista esculpindo em argila, Malak esculpia na chama.

Mas qual forma o novo Oráculo devia ter? Teria uma forma humanoide? Seria uma esfera flutuante, um gigante, uma partícula? Ele teria inteligência própria ou seria um mero dispositivo para guiar as almas até a Grande Chama? Malak decidiria todas estas coisas. Ela descobriria agora que seu poder ia muito além de mera força física. Malak tinha o poder de criar vida. Ela não apenas manipulava a centelha, ela a criava.

Naturalmente era preciso uma quantidade enorme de concentração e dispêndio de poder para alcançar um feito como aquele. A gaisra permaneceu afastada, fitando a chama em total perplexidade. Nunca ninguém havia tentado algo parecido, nem mesmo Pyron.

Malak:

Desde sua chegada ali, aquela era a primeira vez que sorria. Então era capaz de muito mais do que imaginava, poderia ser capaz de criar… Um oráculo! Brincaria com as formas das chamas caso tivesse tempo e energia sobrando. Mas precisava voltar e precisava resolver o processo dos espíritos à Grande Chama. Melhor seria se conseguisse os dois feitos ao mesmo tempo, ainda que gastasse mais energia que o necessário caso fosse executar uma ou a outra tarefa.

Uma esfera flutuante. E sem inteligência própria, ao menos por enquanto. Aquele Oráculo ousado já havia causado problemas o suficiente e mesmo que fiel a Pyron, ele poderia seguir os passos de Insinerahin. Melhor não. Melhor algo que apenas guiasse as almas para deu descanso e para que as encaminhasse a um próximo destino, seja ele o retorno em outro corpo ou a permanência junto da origem.

Inspirou mais profunda e lentamente enquanto concentrava-se ao máximo, também concentrando a energia que fosse necessária para conseguir moldar aquele "canal". Tão logo conseguisse - se conseguisse - voltaria-se para a gaisra:

- Consegui. Agora poderão descansar como merecem, não mais ficarão vagando sem rumo.

Abriria caminho para ela, calma e cansada. Agora a centelha criada, aquele último esforço para manipular suas energias, era para ela mesma. Malak guiava a centelha para dentro de si, dentro do próprio peito onde sempre queimava forte e vivo as labaredas de Firelands. Precisava conseguir.

Narrador:

Centenas de almas tomaram o vale, atravessando os céus que naquele plano eram de um tom amarelado. A luz da Grande Chama cobria tudo ali e agora ela estava mais perto e ao alcance de todos. A maioria das almas pertencia aos soldados mortos no campo de batalha, provenientes dos dois exércitos inimigos.

A gaisra olhou na direção da Chama. Agora ela sabia o caminho. Ela se virou para Malak e fez uma última reverência, dizendo:

- Ainda nos encontraremos de novo, Malak Nawar. Obrigada por tudo o que fez. Vida longa à Senhora das Chamas!

A gaisra retornou à sua forma espectral e voou na direção da luz. Era algo extraordinário de se ver: Os espectros flamejantes deixando um rastro semi-transparente no céu enquanto se fundiam à Grande Chama. Uma visão que dificilmente outro alguém presenciaria e viveria para contar.

A própria Malak, porém, ainda não sabia se viveria novamente. Assim que tentou colocar a centelha dentro de si, algo segurou seu braço por trás e a puxou com força, fazendo com que ela se virasse bruscamente. Era Pyron, que ainda estava em sua forma "física" naquele plano. Ele era a única alma que ainda não havia se juntado à Grande Chama. A última alma perdida de Firelands.

Malak:

- Sim, ainda nos encontraremos. Obrigada. - observou a gaisra e outros espíritos finalmente encontrando a paz ao encontrar outra vez a Grande Chama. Pelo menos aquilo era um alívio, pelo menos um erro havia sido reparado.

Estava pronta para tentar o próprio poder mas foi puxada tão bruscamente por… Pyron. A expressão de surpresa no rosto de Malak era notável e por fim inclinou um pouco o rosto, retirando o braço do alcance do ex-regente.

- Ora… Que cobra você criou, hm? Insinerahin, uma traidora eficiente, silenciosa. Jamais imaginaria o que ela planejou. Mas me surpreende que você, Pyron, que lutou sempre com honra, sempre venceu por mérito, tenha criado alguém que te trairia se estivesse lá. - claro, isso seria falado sela não fosse logo atacada. - Eu voltarei e a traição será paga com sangue.

Narrador:


- Acredite, campeã, ela também me enganou. Quando você a acusou na arena, eu não duvidei. Eu a criei para ser assim. De um certo modo ela me deixa orgulhosa, embora eu seja a favor do combate franco e direto ao invés de maquinações. - Pyron fez uma pausa, ficando de costas para Malak, e depois se virou bruscamente, continuando:

- Eu vi o que ela fez após minha morte, enquanto minha alma vagava perto do castelo. A lâmina foi um estratégia inteligente, mas fazer você destruir o Oráculo foi inconsequente. Sem o Oráculo, as almas não retornam para a Grande Chama. Sem as almas, a Grande Chama deixa de existir. Insinerahin, em sua sede de poder, vai destruir Firelands. Isto é, a menos que você a impeça.

Pyron olhou para o céu, em um raro momento de auto-reflexão. Talvez a morte causasse isso nas pessoas. Ele continuou:

- Eu sempre soube que esse momento chegaria. Eu pensei que, colocando o Punho da Fênix em você, eu seria capaz de controlar seu poder, impedir que fosse mais forte do que eu, o que prolongaria meu reinado. No final, você realmente era mais forte. Eu fui derrotado em uma luta limpa e morri com honra. Acredite, Malak Nawar, eu teria matado Insinerahin se soubesse que ela planejava destruir o Oráculo.

Parecia que Pyron acabara de falar, mas ele deu alguns passos na direção de Malak, continuando:

- O ser que você criou guiará as almas para a Grande Chama, mas não fará os excepcionais renascerem. Não haverá novos campeões como você nas futuras gerações em Firelands se o Oráculo não for poderoso. Malak Nawar, peço que me torne o novo Oráculo. Eu abro mão de meu livre-arbítrio e abraço a imortalidade para servir à Terra Flamejante. Eu serei eternamente seu servo e servo de Firelands. Eu selecionarei os melhores campeões dentre os renascidos. Apenas os que forem mais fortes do que eu terão o direito de renascer na chama. A Nação Flamejante terá os mais fortes campeões já vistos na história.

Fez nova pausa, concluindo em seguida:

- Basta apenas que me coloque na posição.

Malak:

Malak olhou-o com cuidado enquanto percebia que não havia mais aquele poder ou aquela arrogância de horas antes. Ele estava morto, como qualquer outro combatente e como ela mesma. Inclinou um pouco a cabeça ao ouvir do "orgulho", lembrando-se de algumas palavras que seu pai - muitos anos antes - dizia:

- Mesmo a melhor das cobras ainda É uma cobra, Pyron. A sua melhor cobra.

Malak permanecia olhando-o, ainda que de costas e imponente com todo seu porte e postura. De nada adiantava agora. Mortos, os dois. Olhou outra vez a Grande Chama e aquele Oráculo inanimado que havia criado. Outra vez apenas ouvia, voltando-se para olhar o ex-regente. Aguardou que ele terminasse todo o discurso, acompanhando-o com o olhar até que ela se aproximasse e fizesse o inusitado pedido.

- Você a criou. Você a moldou desde pequena, eu vi seu quarto. Você devia saber tudo o que ela pensa, devia saber predizer o que planejava. Você foi um pai para Insinerahin. Mas infelizmente um pai que pensava nela apenas como objeto de poder, um modo de conseguir derrotar por meios sem honra. Ela achava que era como uma filha. A preferida. Havia uma pintura sua no quarto dela. Você a criou para achar que era uma filha, quando nada era além de alguém de seu exército. Um pouco mais qualificado… Mas sem valer muito mais que um soldado. Agora paga por seu erro. Eu pago por seu erro e Firelands pagará.

Malak sorriu breve e tristemente.

- Traiu seu povo, maltratou-o, enviou sua "filha" para me tratar, foi traída por ela. Por que eu, agora, deveria dar a você tamanho poder, Pyron? Como confiarei que fará o que me disse? Que será mesmo servo de Firelands? Não importa qual o regente. Como saberei se será mesmo servo, fiel, leal à Firelands?

Olhou-o, franzindo um pouco a testa antes de continuar e sorrir outra vez, do mesmo modo.

- Por que morreu? Mas e todos aqueles que você condenou à morte por fome, falta de abrigos, proteção e cuidados? O governante é o servo do povo. Está ali para ajudar, controlar, atender seus anseios, protegê-los do medo, da fome. E você fez o oposto! Eu não teria me erguido contra você se governasse de modo justo e leal a Firelands.

Por fim, questionou-o abrindo um pouco os braços.

- Te dando esse poder imenso, como saberei que EU renascerei agora? Para que EU acabe com a cobra que você criou e que destruirá Firelands? Com que confiança? EU preciso resnascer. E você fará isso? VOCÊ? Prove-me sua disposição em ser de fato servo de Firelands, de abrir mão do livre-arbítrio. Prove-me. Agora. Se me convencer, terá o pedido concedido prontamente. Se não…

Narrador:

Pyron permaneceu pensativo, especialmente quando Malak disse que Insinerahin o considerava um pai. Ele respondeu:

- Hmm... Nunca percebi que ela considerava a mim como um pai. Minha intenção era usá-la para espionagem em outros reinos e missões secretas. Nunca esperei que ela almejasse nada além de sua própria posição.

Pyron continuou respondendo às outras questões:

- Eu nunca enviei Insinerahin para lhe matar. Se ela lhe atacou, foi por vontade própria. Minha intenção era convocar você para um combate e derrotá-la na frente de milhares de flamejantes, provando assim meu poder. Eu estava certo de minha vitória. E teria vencido se você ainda estivesse sob o controle do Punho da Fênix. - Pyron fez uma pausa, olhando novamente para o horizonte e continuou:

- Eu governei Firelands como achei que ela devia ser governada. Concentrei todos os recursos no setor militar, deixando outras áreas em defasagem, acreditando que o povo iria entender os benefícios a longo prazo. Sacrifícios de alguns milhares para garantir o futuro da nação. Firelands teria o maior poderio bélico do Império, maior do que todos os reinos da Aliança somados. Este era meu sonho. Mas você achava que devia governar de outra maneira. Era mais forte e me derrotou. Justo.

Pyron se aproximou, fitando Malak e respondeu:

- Tudo o que eu sempre fiz foi por Firelands e agora não é diferente. Talvez você não concordasse com meus métodos, mas eu lutava pela proliferação da raça flamejante, por uma nação mais forte e selecionada. Eu poderei continuar fazendo isto como o Oráculo. Eu não poderei deixar meu covil, não podendo interferir no que acontece no plano material, e nunca poderei deixar minha posição. Mas eu não me importo com isto, pois sei que poderei continuar tornando Firelands uma nação cada vez mais forte. - Pyron parou por um instante, dizendo em seguida:

- Você deseja uma prova de minha lealdade? Eu gostava do poder, Malak Nawar. Eu precisava ter o controle de todas as coisas, sempre. Usei o Punho da Fênix para lhe controlar, mas também usei algo para controlar Insinerahin. Eu não podia deixar que ninguém fosse mais forte em meu reinado. Não tive a oportunidade de usar isto nela, mas agora... Você poderá. - Pyron fez uma pausa para se certificar de que Malak prestava total atenção e concluiu em seguida:

- Recite as palavras VAERA PRAELL INSINERAHIN e você a controlará de acordo com sua vontade. Agora vá, Malak. Salve Firelands e seja a mais forte de uma vez por todas. Meu poder garantirá que eu permaneça aqui no limbo por mais algum tempo, mas não demore em sua decisão de me tornar o Oráculo. Eu esperarei aqui.

Malak:

- Faltou… humanidade. Mas não me espanta que não tenha reconhecido que ela o desejava como pai. Estava cego pelo poder, eu entendo. - murmurou, aguardando que ele falasse um pouco mais antes de continuar. Aquele tempo parada sem se concentrar pelo menos para descansar e recuperar o poder perdido para que criasse aquele Oráculo inerte.

- Seu investimento no setor militar certamente fará diferença, Pyron, mas muito foi perdido nessa guerra civil. Os flamejantes estavam insatisfeitos, faltava o básico e você, ao que parece, percebia isso. De fato conseguirá seguir selecionando os melhores para o renascimento, os melhores campeões se for o Oráculo. Talvez possa ser essa a sua melhor contribuição para a nação, melhor que quando um regente.

Voltou a cruzar os braços enquanto ouvia-o, buscando não demonstrar muita surpresa ao perceber que ele controlava até mesmo a assassina. Aquele castelo parecia um covil de cobras. Um querendo o pior para o outro, maquinando como alcançar seu objetivo não importa como ou passando por quem quer que fosse.

- "Vaera Praell Insinerahin", Pyron? Tenha em mente que é sua única chance. Se eu a conseguir sob meu controle com essas palavras, você se tornará o novo Oráculo. Hoje ainda. Mas… Veremos.

Afastou-se um pouco mais antes de outra vez conseguir concentrar aquela centelha e guiá-la até dentro de si mesma. Esperava conseguir renascer e deixar tudo como havia sido planejado por tantos meses junto a Seeje. E ainda havia o Mestre de Armas…. Precisava revê-lo.

Narrador:

Assim que colocou a centelha dentro de si, Malak sentiu uma grande explosão de chamas. Como a metafórica Fênix, Malak renascia mais uma vez, sua chama unindo-se à de Firelands. Eram uma só.

Seus olhos se abriram apenas para se ver na arena suspensa, onde iniciara sua luta com Pyron anteriormente. Estava deitada ao chão e Insinerahin estava a sua frente, próxima da beirada e de costas para Malak. A assassina segurava o objeto redondo que usara para ativar as propriedades de gelo da lâmina e falava alto, provavelmente para o exército que ainda estava parado em frente ao castelo. Sua voz era aumentada magicamente, de forma que ecoava por todo o vale:

- Soldados de Firelands! Uma nova era se inicia! A Era de Insinerahin! Obedeçam-me, ou a alma de sua querida ex-campeã será perdida para sempre!

Insinerahin não havia notado que Malak despertara. Ela estava totalmente vulnerável, de costas para a campeã.

Malak:

Abrir outra vez os olhos e se ver outra vez viva, na terra que jurou defender, gerou em Malak uma grande sensação de alívio. E uma sede crescente de vingança.

Não queria uma escrava, como Pyron havia sugerido. Queria a morte de Insinerahin, queria vê-la morta. Não suportava traições e não seria naquele dia que ela aceitaria. Malak levantou-se silenciosa e aproximou-se apenas o suficiente para, em golpe com muito de sua força e energia das chamas, enfiar a mão no tórax da cobra, por trás, e retirar seu coração.

Nada, nenhuma palavra.


Narrador:

Insinerahin sequer teve tempo para reagir quando viu seu próprio coração segurado por Malak à frente do corpo, o braço da campeã atravessando sua caixa torácica. Ela sabia que era Malak, mas estava descrente. Não contava que a campeã tivesse tanto poder para conseguir voltar. As chamas que Malak invocou se espalharam pela arena em intensidade máxima, fazendo a lâmina gelada dentro dentro de si pulverizar-se e o ferimento finalmente se fechar. Uma ave de fogo ergueu-se no céu como um facho de luz, anunciando o retorno da verdadeira regente.

Os soldados mal acreditaram no que viram. Tudo foi tão rápido que precisaram de alguns segundos para que o ato fosse absorvido por eles. Uma comemoração eclodiu em seguida, com o nome de Malak sendo gritado à plenos pulmões. Malak não precisava da magia de ampliação para que sua voz ecoasse para longe, caso ela quisesse dizer algo aos soldados e apoiadores, que ainda comemoravam o milagre.