Combata Fogo com Fogo (Encerrado)

Narrador:

- Ela armou, com certeza. Tudo isto está muito errado. Mas termina aqui e agora! - Respondeu Sigmund, olhando sobre o parapeito do mezanino onde estavam. A fortaleza continuava para baixo, parecia interminável. Ele complementou:

- Seeje invadiu a fortaleza e foi atrás de Pyron. Eu não consegui me aproximar dele, pois ele tentou me atacar quando me viu. Eles desceram vários níveis. Eu não via muita esperança, mas agora que você está aqui, venceremos Pyron! Venha!

Ele fez um sinal para que Malak o seguisse. Ainda havia grupamentos de soldados se movimentando na fortaleza, mas todos eles iam em direção à saída para participar da batalha e era fácil se esconder por entre os corredores sinuosos do lugar. Esta era a abordagem de camuflagem, mas se Malak quisesse, poderia sair explodindo estes soldados.

De qualquer maneira, chegariam até uma câmara subterrânea muito grande e alta. Havia pouquíssima iluminação, mas Malak sabia que aquela escuridão não era natural. Caso usasse seus poderes para iluminar o local, veria alguém acorrentado contra a parede no outro extremo da câmara. Os grilhões e correntes o mantinham em pé ao invés de suas próprias pernas, que não mais respondiam. Havia sangue na pedra ao seu redor, na parede e no chão. Quem quer que estivesse ali, havia sido torturado recentemente. Malak só descobriria sua identidade caso se aproximasse mais, pois a escuridão sobrenatural na câmara era muito densa.

Malak:

- Maldita. Pagará por isso. Por cada vida.

Sentia ódio de si mesma por ter permitido a Insinerahin tantas liberdades ao invés de simplesmente prendê-la ou executá-la. Evidente que uma cria de Pyron jamais o trairia por uma campeã como ela. Malak não voltou a falar nada, seguindo Sigmund e explodindo os soldados que encontrasse pela frente. Não seria camuflando que conseguiria ajudar seu exército: quanto mais baixas para Pyron, melhor para ela.

Tão logo quando chegassem na câmara subterrânea Malak usaria um pouco de seus poderes para iluminar um pouco o caminho. Cerrou os olhos ao ver o prisioneiro, dando alguns passos em sua direção. Sentia medo daquele prisioneiro ser Seeje, torturado por uma falha sua, por uma demora que nem mesmo sentiu ter levado para derrotar Pyron.

- Quem está aí?

Narrador:

Malak ouviu apenas um murmúrio de seu nome como resposta. Quem quer que estivesse ali, não tinha forças para falar. Foi apenas quando estava bem perto que a campeã conseguiu ver quem era. Era Sigmund em sua forma original. Estava acorrentado e repleto de ferimentos, entre eles marcas de pancada, cortes, entre outros. Estava sem seu equipamento e armadura, vestindo apenas sua roupa de algodão que estava em trapos. Ao ver Malak, ele se agitou e abriu mais os olhos, como se estivesse tentando avisar a campeã de algo, mas estava muito debilitado para falar.

Era tarde, porém. Malak sentiu uma lâmina pequena penetrando-a abaixo das costelas, na abertura de sua armadura. Um golpe rápido e preciso. Um golpe que apenas uma assassina poderia executar. Ela bateu a arma contra a beirada da armadura de Malak, quebrando-a, o que fez com que a lâmina ficasse dentro da carne da campeã. Além da dor, Malak sentia outra coisa: Um frio muito intenso emanando daquela lâmina. O poder congelante daquele objeto teria transformado qualquer outro em puro gelo, mas, no caso de Malak, sua chama superior impedia tal consequência. O objeto debilitava Malak, mas ela ainda podia se mover e lutar normalmente. Teria apenas que lidar com a dor imensa.

Insinerahin, a verdadeira Insinerahin, jogou o cabo da lâmina para longe e deu uma risada, dizendo:

- Espero que esta arma funcione. Paguei uma fortuna por ela e ainda tive que aguentar aquele clima maldito de Stormhigh. Antes que você tente me matar, Malak, lembre-se que apenas eu sei onde está seu amado Seeje. Sim, eu sei sobre vocês. Qualquer um poderia dizer apenas olhando para os dois, mas eu fiz questão de extrair algumas... Informações extras de Sigmund. Não é mesmo, querido? - Insinerahin tocou a cabeça de Sigmund, que se agitou, com medo.

Malak:

Malak franziu a testa ao reconhecer Sigmund torturado e preso à parede. Se quer teve tempo para esboçar qualquer reação ou murmurar algo, surpreendida pelo golpe covarde da assassina. Curvou-se, recuando alguns passos após ter a lâmina quebrada dentro de sua carne. O frio… Não, não era pior que o ódio que sentia de si mesma por não ter acreditado mais em Seeje, por não ter a mesma desconfiança que ele. Com a mão sobre a ferida a campeã endireitou-se, lutando contra a dor e ainda assim, sorrindo.

- Insinerahin… Cria mesmo de Pyron, hm? Parabéns por ter se infiltrado, por ter me enganado, por ter conseguido extrair tão… valiosas informações de Sigmund. Parabéns. Desfrute enquanto pode. E te matar? Não, não está nos meus planos. - "ainda", pensou. Depois que Seeje estivesse em segurança, quem sabe? Quem sabe daria a ele o prazer de decapitar a assassina?

Se era mesmo preciso derrotar o Oráculo, se aquilo de fato daria a ela mais poder, então aquele era o momento para saber a verdade e para testar se estava mais poderosa. Um primeiro ataque seria realizado por ela, utilizando a chama como se fosse uma lâmina. Não queria mesmo matá-la… Mas uma assassina incapacitada seria mais interessante.

Narrador:

Insinerahin usou seus reflexos e agilidade para saltar para trás e desviar-se do golpe da lâmina de chamas de Malak. Ela deu uma risada irônica, soltando o cinto de couro que pertencia à Sigmund e jogando-o ao chão. Depois fez um movimento negativo com o dedo indicador para Malak e um sorriso irônico no rosto enquanto dizia:

- Ahh, não não não. Isto foi muito feio da sua parte, Malak Nawar. Agradeço os elogios, mas não faça isso de novo ou algo dentro de Sigmund vai explodir. Algo que eu coloquei lá, é claro. Preciso apenas estalar os dedos e ele morre. Mas seria uma pena, não seria? Um transmutador tão bom quanto ele. Enganou-me direitinho se passando por Seeje no seu castelo. Mas quando ele entrou aqui, o poder superior de Lord Pyron interferiu no poder dele. Devia ter visto a cara dele quando se transformou de volta contra sua vontade. Foi engraçado, não foi, Sig? - Insinerahin se aproxima dele novamente e dá alguns tapinhas na cabeça, continuando:

- Nem usei todas as minhas ferramentas. Sig quebrou muito fácil. ( Sigmund é fraco para torturas, como Malak descobriu quando escolheu o infiltrador. ) Mas isto foi bom, eu estava sem tempo. Eu sabia que você viria, apenas não tinha certeza da hora. Eu esperava que o Oráculo fosse um desafio um pouco maior, mas foi o suficiente. É uma pena eu ter esquecido de mencionar que o tempo corre diferente no reduto do Oráculo. Nestes dias que se passaram aqui fora, foi muito fácil a Pyron e seu exército invadir o castelo. Você era a única coisa que poderia enfrentar Pyron e você não estava. - Insinerahin deu alguns passos para o lado e continuou, sempre com seu trejeitos felinos:

- Você se enganou em uma coisa. Eu não sirvo à Pyron. Quer dizer, eu finjo que sirvo. E agora eu tenho a única coisa que pode destruí-lo: Você. Caso não queira que seu transmutador vire pedacinhos, você fará exatamente o que eu mandar. Você destruirá Pyron.

Malak:

Malak sentia o sangue escorrer da ferida para dentro de sua armadura rã dor que a lâmina causava a cada movimento limitava suas ações. Tinha ódio das próprias falhas, de como havia sido enganada tão facilmente dentro do próprio castelo, em uma situação tão atípica e que Seeje a advertiu tantas vezes.

Olhou Sigmund por algum tempo, ponderando cuidadosamente sobre como agir. Sabia que o transmutador daria a vida por ela mas se pudesse evitar que isso acontecesse...

- Sim, eu derrotarei Pyron. Mas não foi muito sábia em me ferir antes de um combate como esse, Insinerahin. É evidente que isso vai me prejudicar e por consequência diminuir as chances... Leve-me até Seeje e de lá até Pyron. Terá a cabeça dele... - "e eu a sua", pensou. Era arriscado, era tudo muito arriscado mas era a chance que tinha. Restava a esperança de reforços, daquela assassina que havia escolhido para sua guarda pessoal. Restava apenas esperança...

Narrador:

- Confio em seus poderes, campeã. - Disse Insinerahin de forma irônica, sorrindo. Ela deu dois tapinhas na cabeça de Sigmund e depois foi andando até a saída daquela grande sala. Sigmund fitou Malak e fez um movimento afirmativo com a cabeça. Embora ainda estivesse em choque, seu pensamento ficava claro através de seus olhos: "Acabe com todos eles, Malak."

Saíram da sala de tortura e voltaram até o mezanino. Malak poderia atacar Insinerahin novamente, poderia tenta-lo quantas vezes quisesse, mas ela estava com a vida de Sigmund em suas mãos. Poderia ser um grande blefe da assassina. Caberia à Malak decidir se testaria ou não essa hipótese.

De qualquer maneira, continuariam o caminho para baixo. Era incrível como aquela fortaleza descia em meio à rocha vulcânica de Firelands, parecendo não ter fim. Após vários níveis, alcançaram uma grande área aberta dentro da gigantesca caverna. Da área elevada de onde estavam era possível ver tudo. Havia uma cúpula de grade de ferro no centro que parecia ser uma arena. Ao redor desta cúpula estava a "platéia": Pelo menos uma centena de criaturas flamejantes, pequenos demônios e outras formas de vida repugnantes, todos dispostos ao redor da arena e vibrando com o que acontecia dentro dela.

Malak reconheceria um dos guerreiros na arena: Era Seeje com sua armadura de guerra, agora partida em vários locais e coberto por sangue. Ele acabava de dar o golpe final no que parecia ser um cão flamejante, maior do que ele. Estava esbaforido e exausto, de forma que aquela não devia ter sido a primeira luta, e obviamente estava ali contra sua vontade. Fora da arena, sentado sobre um trono gigantesco, estava Pyron. Malak finalmente tinha uma visão clara do regente desde que ressuscitara. Era uma criatura imponente devido à sua altura, postura e o poder que emanava dele. Ele olhou ao redor por alguns instantes. Sabia que Malak estava próxima, podia senti-la. Ele sorriu de satisfação, pois já ansiava pelo momento.



Insinerahin parou, olhando toda a movimentação lá embaixo, e depois disse à Malak:

- Você queria Seeje e Pyron. Ainda está. Faça como bem entender, mas não esqueça do seu dever. Boa sorte, campeã. - Disse, sempre com um sorriso irônico. Em seguida, segurou o rosto de Malak e lhe deu um selinho em provocação. A maldita não perdia nenhuma oportunidade para piorar as coisas.

Malak:

- Sim, confía… Precisa confiar para alcançar seus planos, não é? Sozinha você jamais conseguiria. - Malak falou enquanto olhava Sigmund. Queria que ele soubesse que faria o melhor, que faria o que fosse possível para tirá-lo dali com vida. A perda da Gaisra por uma decisão sua já havia sido desagradável o suficiente.

Não atacaria Insinerahin. Não antes de derrotar Pyron. Sabia que aquela batalha consumiria muito de suas forças (isso se conseguisse vencê-lo) e que a assassina seria uma vítima mais fácil. Caminharia em silêncio e um pouco atrás de Insinerahin já sem sentir sangue escorrer por seu corpo. Talvez a hemorragia recomeçasse quando se movimentar mais, pelo menos era assim que raciocinava.

Surpreendia-se com o tamanho da fortaleza de Pyron, com tudo o que havia sob aquela aparência. Talvez ainda existissem outros níveis, outros salões, outros… Enfim, não era hora para divagar sobre o tamanho. O olhar passou pela plateia, observando-a brevemente antes de reconhecer um dos guerreiros. Seeje. Vivo! Ferido, mas vivo. Sentiu pelo menos um pouco de alívio, um pouco mais de desejo em acabar logo com o que enfrentavam. Em seguida olhou Pyron. Malak chegou a arquear um pouco as sobrancelhas, surpreendendo-se com a visão e com o poder que emanava daquela criatura. Um sorriso… Seria o último se dependesse da campeã.

Insinerahin a surpreendeu mais uma vez mas agora com um… beijo?! Tudo o que a campeã fez foi limpar os lábios no dorso da mão e se afastar, aproximando-se mais dos limites da plataforma onde estavam. Respirou fundo e com a força de seus pulmões, disse:

- Pyron! - era hora de acabar com tudo. De lutar por Seeje, por Sigmund e por Firelands.

Narrador:

Insinerahin fez um afirmativo frente à conclusão de Malak. Sim, a assassina estava manipulando tudo a seu favor, planejando seu golpe contra Pyron desde o começo. Mas até que ponto Pyron sabia disto? Até que ponto ele foi enganado? Malak descobriria em breve.

De fato o sangramento havia estancado mas recomeçaria se Malak se movimentasse muito. Que tipo de artefato era aquele capaz de permanecer intacto dentro da campeã e ainda debilita-la? Talvez fosse uma junção de fatores. O objeto, aliado à interferência de Pyron em sua fortaleza, impediam Malak de manifestar seus poderes plenos recém-adquiridos. Mas não por muito tempo.

Assim que Malak deu o grito, Insinerahin sumiu de vista, como era esperado dela. Todos naquela área, incluindo Pyron, olharam na direção dela. As criaturas ao redor da arena se alvoraçaram, com alguns fazendo caras ofensivas para Malak, gestos obscenos ou até mesmo subindo na grade de ferro do lado de fora. Seeje nunca duvidou do retorno da campeã, mas, dada a situação sem saída em que se encontrava antes, foi um alívio muito grande ver Malak novamente, e ele expressou isto em um sorriso raro. Estava ajoelhado ao chão da arena, exausto.

Pyron continuou com o sorriso enigmático no grande rosto e se levantou do trono. Não era maior que aquela forma monstruosa do Oráculo que Malak enfrentou, mas sua presença impositora não era causada por sua altura, e sim pelos detalhes. Sua constituição física era impecável. Ele parecia extremamente ágil para alguém de seu tamanho. Possuía centenas de cicatrizes pelo corpo, mostrando que era um guerreiro antigo e muito experiente. As marcas rúnicas em seus braços denotavam que era conhecedor de magia de nível, no mínimo, mediano. Mesmo em posição neutra, com os braços abaixados, sua defesa parecia impenetrável.

Ele ergueu os braços e todos os pequenos demônios e criaturas ao seu redor se calaram e os inimigos na arena não entraram mais. Sua voz já se sobreporia à dos outros normalmente e agora ecoava ainda mais alta pela caverna. Ele falava a língua antiga de Firelands, que Malak entenderia pois a aprendeu em seu renascimento:

- Malak Nawar finalmente volta ao Hall dos Campeões! Aqui, onde as grandes lendas de Firelands são forjadas no sangue e no fogo! Observem, meus servos, o mais proeminente de todos os campeões! A filha pródiga de Firelands retorna à casa!

Em uma mudança brusca de opinião, as criaturas ao redor da arena agora ovacionavam Malak. Pyron então finalizou:

- Malak Nawar, você é a melhor campeã que já existiu, mas levou suas ambições muito adiante. Você não foi a primeira e não será a última. Todos os campeões em minha regência almejaram mais poder e eu coloquei todos em seus devidos lugares.

Malak:

Toda a manipulação terminaria assim que derrotasse Pyron. Com ele fora de seu caminho, Malak teria mais facilidade em derrotar Insinerahin sem que Sigmund fosse morto. Pelo menos era isso que imaginava, isso que desejava fazer. Parada ainda sobre o patamar mais alto que a arena, a campeã permaneceu olhando Pyron até que fosse notada por ele. Não se importava com gestos, palavras ofensivas ou o que mais a plateia fizesse com intenção de perturbá-la. Seu alvo ali era Pyron. Apenas ele. Claro, derrubaria meio mundo se fosse necessário para chegar ao regente.

Olhou brevemente para Seeje, feliz por vê-lo vivo e "bem" ainda que sem sorrir de volta por motivos óbvios. Voltaria a olhar para Pyron pouco depois, prendendo a respiração ao vê-lo se levantar. Imponente, parecia invencível… Ainda mais depois que havia sido estupidamente ferida por Insinerahin. Estúpida, burra. Como havia sido idiota ao ferí-la antes de combater Pyron. Esperava, no entanto, que ela não se arrependesse disso, que não custasse sua derrota.

- Em sua regência, todos os campeões fracassaram… Até agora. Seu reinado chegará ao fim hoje. Agora. - estava nervosa, ansiosa pelo fim de tudo… Seja qual fosse! - Vamos. Vamos terminar de uma vez por todas com isso.

Narrador:

Era incrível como aquela "plateia" mudava de opinião tão rápido. Assim que Malak disse que iria acabar com o reinado de Pyron, as criaturas menores voltaram a xingar e hostilizar Malak. Pyron fez novo sinal para que calassem a boca e andou até perto da arena, dizendo, sempre na língua antiga:

- Eu estava esperando por isto, Malak Nawar. Seeje foi uma boa distração. Ele é um excelente guerreiro, mas não chega aos pés do campeão mais poderoso que Firelands já possuiu. Você.

A grade de ferro da arena se abriu em duas partes e estas partes se retraíram e entraram no chão, deixando-a totalmente aberta, sem barreiras entre ela e a "arquibancada". Era uma engenhoca impressionante, feita para realizar os desejos sanguinolentos de Pyron. O regente então caminhou até o centro da arena, próximo de Seeje, e fez um sinal para que Malak se aproximasse:

- Venha, campeã. E se algum destes vermes tocar em você, eu mesmo os decapitarei.

Dito isto, se Malak descesse pelos níveis da arquibancada até a arena, nenhum dos pequenos demônios se aproximaria dela, embora continuassem a hostilizando o tempo todo. Pyron deixaria que ela se aproximasse de Seeje, sem nenhum ato hostil. Estava muito calmo. Talvez sua frieza fosse natural ou simplesmente não acreditava que Malak poderia vencê-lo. Seeje se aproximou de Malak, ainda cambaleando ligeiramente, mas não tirava os olhos de Pyron. Embora estivesse feliz de se reencontrar com a campeã, estavam diante de uma ameaça e tanto. Pyron continuou então:

- Independente de nossa situação, grandes guerreiros devem ser respeitados, principalmente em Firelands, uma nação criada no sangue e no fogo. E talvez você não acredite, Malak, mas eu a respeito, embora ache um desperdício o fato de estar jogando sua vida fora desta maneira. Responda-me apenas uma coisa: Como você sabia que o Oráculo estava refreando seus poderes?

Malak:

A "plateia" dançava conforme a música que Pyron escolhesse, basicamente um bando de bajuladores. Permanecia em silêncio, olhando o regente de onde estava enquanto ainda séria como a situação demandava. Enquanto as partes da grade sumiam no chão Malak pôde pensar em quantos outros campeões haviam sido mortos ali ao desafiarem o governo de Pyron. Não queria ser mais uma e não seria. Não seria.

- Eu mesma arranco a cabeça de qualquer verme que ousar me tocar. - respondeu-o enquanto descia por entre a arquibancada, sem olhar ou responder qualquer um daqueles seres. Era como se estivesse caminhando sozinha, como se estivesse apenas junto de Seeje e Pyron.

Caminhou até Seeje, tocando-o no ombro com delicadeza, com um carinho reservado, contido. Apesar de toda a altura e imponência física de Pyron, Malak não o olhava "por baixo". Não se sentia inferior ou ameaçada, estava ali para decidir o futuro de Firelands ainda que isso custasse sua vida. Tentaria até o fim, pelo povo que a acolheu tão bem e a apoiou mesmo sob a regência daquele líder tirano.

- Eu o respeitava, Pyron. Eu o respeitava até perceber que não se importa com o povo e suas necessidades, até perceber o quanto seus interesses não residem em melhorar a vida de seu povo. Se estou jogando a minha vida fora, nós veremos em breve… Se eu morrer, morrerei por querer que Firelands seja melhor, próspera e poderosa. - Malak não conseguiu segurar a risadinha diante da pergunta de Pyron. - Um passarinho assassino me contou. Aliás, uma "passarinha".

Finalmente olharia Seeje, falando algo simples e que se distanciava de um plano uma vez traçado por eles. Seu Mestre de Armas não estava em condições de desafiar Pyron, morreria antes que ela pudesse interferir.

- Retire-se da arena, Seeje. - poderia ser a última vez que se olhavam… O toque em seu ombro poderia ter sido o último…

Narrador:

Pyron sorria ironicamente, ainda fitando Malak, e respondeu à afirmação dela sobre sua regência:

- Então você acha que governará melhor do que eu, Malak? Admiro que esteja disposta a morrer para provar isto. A Aliança Imperial tornou Firelands fraca, fez com que nos afastássemos de nosso foco, nosso objetivo. Firelands deveria ser um Império por si só, dominando até mesmo a Aliança Imperial. E eu conseguirei isto, nem que o povo passe fome e morra. Os flamejantes são fortes e irão aguentar alguns anos de rateamento. - "Enquanto Pyron e seus subordinados continuam comendo e sob um teto" seria o raciocínio lógico para completar a frase, mas é claro que Pyron não admitiria isto.

Sobre o que Malak disse da "passarinha", Pyron arqueou as sobrancelhas, ou o que parecia ser isto, em seu grande rosto. Ele não compartilhava esse tipo de informação com nenhum de seus subordinados, exceto... Por uma pessoa. A mente do regente revelou o culpado rapidamente. Pela primeira vez, Pyron fez uma expressão de raiva e seus olhos, literalmente, emitiram fagulhas. Insinerahin havia enganado o Lorde e isto era um feito impressionante. Pyron voltou ao normal segundos depois e disse:

- Não importa. Eu lidarei com ela após ter destruído você.

Seeje fez um afirmativo para Malak, tocando o ombro da campeã de igual forma, e começou a se afastar. Antes que ele saísse dos limites da arena, entretanto, Pyron ergueu as mãos, sorrindo:

- Já que deseja ser a nova regente, Malak Nawar, por que não deixar seu povo compartilhar de sua glória?

Segundos depois, toda aquela caverna começou a tremer. Os demônios inferiores e outras criaturas correram para longe, deixando as dependências da arena. O teto da caverna se abriu, com a rocha remodelando-se de forma impressionante. O chão sob os pés dos três guerreiros tremeu e a arena elevou-se, tornando-se um pilar gigantesco de pedra que ergueu-se, atravessando a passagem no teto.

A arena agora estava do lado de fora e estavam tão alto que era possível ver todo o campo de batalha ao redor da fortaleza de Pyron. Malak observava enquanto seu exército ainda se degladiava com o do regente em solo, assim como as forças aéreas de ambos os lados. A batalha já durava horas e não mostrava sinais de acabar, com os corpos se acumulando a cada momento. Ninguém ainda havia percebido a arena elevada no horizonte. Pyron continuou então:

- Você também pode vê-los, não é, Malak? As almas de todos aqueles que foram mortos, vagando sem rumo, sem ninguém para guia-los até a Grande Chama. O Oráculo era o guia deles. O Oráculo guiava as almas dos que se foram e as almas dos renascidos, exatamente como ele guiou a sua quando você ressurgiu. Agora estas almas estão condenadas a permanecer em Firelands, vagando até o final dos tempos. Tudo porque você queria me destruir.

Seeje não conseguia ver as almas, mas o que Pyron disse o preocupou profundamente. Ele fitou Malak, dizendo:

- O que ele diz... É verdade, Malak?

Malak:

- Os flamejantes são fortes… Mas estão cansados de você.

Malak chegou a rir assim que Pyron fez expressão de raiva, entregando que aquela havia sido mais que uma surpresa para ele. Havia sido traído por quem mais confiava, por quem deveria auxiliá-lo na tentativa de destruir Malak e os aliados que conseguia sem grandes esforços. A campeã mais uma vez surpreendeu-se com tudo o que o castelo de Pyron era capaz de oferecer e precisou se equilibrar para permanecer de pé. Devia ter custado o alimento e teto de centenas ou até milhares de habitantes de Firelands. Seria um grande prazer para ela ver tudo aquilo reduzido a ruínas, parte de um passado nada glorioso daquelas terras.

A senhora das chamas observou, do alto de onde estavam, as batalhas, os corpos e… as almas. Aquilo era perturbador mesmo antes de saber que havia sido por suas ações. A culpa preenchia seus pensamentos por aqueles instantes e não foi preciso responder verbalmente Seeje para que ele entendesse, tamanha a cumplicidade entre ambos. Se morresse, vagaria como todos. Se sobrevivesse e vencesse, teria que consertar aquele "problema" o mais rapidamente possível.

Era tanto para pensar… Malak voltou a olhar Pyron. Havia a dor da lâmina em seu corpo, havia a preocupação com a batalha abaixo deles, com Seeje, com as almas. Tudo aquilo a atrapalhava mais do que poderia diante daquela situação. A força necessária para manter-se equilibrada e de pé sobre aquela imensa plataforma havia sido suficiente para que um ou dois filetes de sangue deixassem sua ferida. Seu Mestre de Armas… Malak chamou mentalmente sua montaria para que ele pudesse deixar aquela arena, já estava debilitado o suficiente.

- Deixe-nos, Seeje. - não havia sido um pedido. Malak ordenava, como pouco fazia com o mestre de armas. - Precisa se recuperar e eu preciso acabar com isso de uma vez por todas. - a voz naquele momento era um pouco mais amena… Mas não deixava de ser firme.

As chamas começavam a percorrer seu corpo, fortes e intensas. Que a luta começasse e foi ela a iniciá-la, ao conjurar uma enorme esfera de fogo e lançá-la contra Pyron. Claro, o efeito do fogo não varia a menor diferença para ele… O que importava mais era o impacto e o que o regente demonstraria de seu estilo de luta. Lembrava-se de Seeje dizendo que era algo peculiar e eficiente e ela não poderia dar a si o luxo de perder muito tempo para descobrir como ele lutava. Estava ferida, não conseguia manifestar todo seu poder e ainda havia a culpa perturbando sua consciência.

Narrador:

Seeje era orgulhoso mas não burro. Ele sabia que, em seu estado atual, ele apenas atrapalharia Malak na luta, e a campeã era a única que poderia fazer frente à Pyron. Ele disse então, antes de se retirar:

- Acabe com ele!

Montou a criatura e afastou-se da arena, juntando-se à batalha no céu. Ele ficaria de olho na luta, mas tinha novos inimigos para se preocupar. Afinal, também era importante manter as forças de Pyron longe de Malak, porque as forças do regente não pareciam estar diminuindo.

Pyron cruzou os braços, observando as chamas crescerem em Malak. O desprezo dele pela luta era óbvio, mas não iria durar muito. Pyron era, obviamente, imune ao fogo, mas o impacto da esfera o jogou para trás. Seu grande corpo caiu contra o chão de pedra da arena, fazendo o pilar tremer. Ele se levantou lentamente, dando uma risada sombria, e disse:

- Excelente! Não esperava menos de você, Malak Nawar. Eu a vi renascer e acompanhei seu crescimento, como um pai observa a filha crescer. Eu estou tão orgulhoso. Você se saiu muito bem contra o Cavaleiro do Apocalypse. Não me arrependo de ter deixado aquele verme entrar em Firelands, pois eu sabia que você passaria nesse teste.

Após a revelação, Pyron estendeu a mão e um chicote de fogo foi materializado. Ele estalou o chicote com força, abrindo uma fenda no chão de pedra, e em seguida atacou Malak, visando enrolar o chicote no pescoço de Malak e enforca-la com ele. As chamas de ambos se degladiavam também mas nenhuma se sobressaía, pois estavam equiparados em termos de poder. Dependeriam apenas de suas habilidades.

Malak:

Não podia pensar nas almas naquela hora, não podia deixar que isso afastasse toda a concentração que precisava ter para uma luta daquele porte. Olhou Seeje partir e sentiu-se um pouco menos preocupada, já que ele estaria um pouco mais seguro longe dquela arena, longe de danos diretos de Pyron. Já havia sido explorado o suficiente naquela arena, sabe-se lá por quanto tempo.

Gostava de ver o desprezo de Pyron por seu poder. A surpresa era sempre um bom elemento de ataque e ele já veria isso nos próximos segundos, ao ser lançado para trás por um golpe até bastante simples, algo que julgava que o grande regente de Firelands defenderia com facilidade. Mas… Não. Pyron caiu.

- Ah… Foi você que permitiu a entrada daquele verme? Por que isso não me surpreende, ahn?? - no mínimo era uma luta incomum de ser assistida, já que os oponentes conversavam, davam risadas sombrias… Incomum.

Malak não mexeu um milímetro com o golpe do chicote do regente no chão, sequer estremeceu. Com agilidade e ousadia (ou loucura?), Malak utilizou a mão para segurar o chicote, deixando que ele se enrolasse um pouco ali, o suficiente para que o segurasse com firmeza. Quase simultaneamente a campeão puxou com força e de modo abrupto o corpo de Pyron, enquanto a outra mão materializava uma espadas - quase uma cimitarra - mas mais estreita, afiada e, apesar de tudo, em chamas ardentes (que não fariam diferença para ele, afinal).

Narrador:

Malak sentia seus poderes aumentando pouco a pouco, apesar da debilitação que a lâmina fria dentro de si causava. Com o Punho da Fênix, Malak nunca seria capaz de derrubar Pyron com um simples golpe daquela maneira. Pyron respondeu a ela, depois do primeiro estalo do chicote:

- Claro que eu permiti a entrada do Cavaleiro do Apocalipse. Firelands deve se aliar apenas aos mais fortes. Se o Cavaleiro derrotasse você, então eu saberia que teria o mais forte ao meu lado. O tolo não esperava que os Imperiais fossem tão fortes, mas isto provou que ele não estava preparado. Você venceu, mas é uma pena que jogue este potencial fora almejando um poder que não merece e nunca terá!

Pyron se surpreendeu quando Malak agarrou seu chicote sem hesitar e o puxou com força. O grande corpo do regente cambaleou na direção de Malak e parecia vulnerável ao ataque da cimitarra. Pyron, entretanto, conseguiu recuperar o equilíbrio antes de ser atravessado pela lâmina.

Ele aproveitou o impulso e partiu em carga contra Malak, dando um soco na mão dela que segurava a espada, desarmando-a. Largou o chicote e usou a mão livre para agarrar o pescoço de Malak, erguendo-a ao ar na beirada da arena. Mais e mais soldados lá embaixo começavam a notar a luta, reconhecendo Pyron e Malak, e em alguns locais da batalha os soldados chegaram a parar de lutar para ver o desfecho do embate. Afinal, não valeria muito a pena continuar lutando se o seu líder fosse derrubado.

Pyron permaneceu enforcando Malak com uma das mãos, aumentando a pressão, e este agarre a machucaria se fosse bem sucedido.

Malak:

Não conseguia entender o motivo de sentir seus poderes aumentando. Não estava fazendo nada que justificasse aquele aumento, pelo menos não tinha tempo para pensar no que estava causando aquilo em meio a uma luta daquele porte. Malak não respondeu a Pyron, já devia imaginar que ele havia contribuído para a entrada tão sorrateira do Cavaleiro.

Esboçou um sorriso sarcástico ao segurar o chicote de Pyron, surpreendendo-o com o puxão para quem sabe dar fim à luta. Infelizmente o regente havia recuperado o equilíbrio e ainda havia conseguido derrubar sua arma. Sem tempo para reagir e desviar-se, Malak sentiu a mão de Pyron em seu pescoço e os pés deixando de tocar o chão da grande arena suspensa.

A pressão duraria poucos segundos, quando a mão dele se fechasse em nada. Tornando-se chama que rapidamente serpenteou para longe do oponente. No lado oposto da arena, caso fosse possível, ainda conjuraria um arco e algumas flechas - arma com a qual possuía mais intimidade desde os tempos de "humana", apesar da curta (? 100m de diâmetro? 50?) distância não ser uma grande vantagem. Lançaria uma com o objetivo de atingí-lo em seu largo peito. Não seria ousada o suficiente para tentar já a sua cabeça, não com tão pouco tempo para mirar com cuidado.

Por aqueles momentos não existia nada mais para Malak. Nem soldados, nem Seeje, nem uma guerra tão próxima. Eram apenas ela e Pyron.

Narrador:

Pyron observou o corpo de Malak virar chamas e desvencilhar-se para o outro lado da arena. Era um truque comum entre os manipuladores de fogo e Malak o aplicou bem. Pyron ainda não estava encarando a luta de maneira séria, mas isto mudaria em instantes.

Os cinquenta metros de diâmetro da arena eram poucos para que uma flecha tivesse sua total eficácia. O poder de Malak, entretanto, mais do que compensaria este problema. O regente se virou para a campeã e permaneceu parado, de braços cruzados, decidindo receber todo o impacto da flecha, pensando que não teria força para atingi-lo. [ Já rolado ]

O grande corpo de Pyron, neste caso, foi uma desvantagem, pois a área de mira era maior. Tamanha foi sua surpresa quando a flecha de Malak o atingiu certeira e poderosa no peito. [ Pyron: -2 de Vitalidade ] O impacto não só o feriu, como o jogou para trás. Ele estava na borda da arena suspensa e acabou caindo. Seu grande corpo despencou sobre o telhado de uma torre mais baixa da fortaleza, e depois em outra, caindo finalmente sobre a área à frente da fortaleza, onde o combate em solo estava mais fervoroso. Pyron chegou a esmagar vários soldados, de ambos os exércitos, ao cair em cima deles.

Foi apenas neste momento que todos os soldados perceberam o que estava acontecendo. Os combatentes se afastaram assim que Pyron caiu, abrindo uma clareira naquela área. Os exércitos até mesmo cessaram a luta. Pyron se ergueu lentamente, sua chama ardendo de ódio. Sua aura de fogo até mesmo queimou os soldados mais próximos. Ele fitou Malak lá em cima e disse, furioso:

- Antes você possuía minha curiosidade, campeã. Agora você possui meu ÓDIO!!

Pyron socou o chão, causando um pequeno tremor. A princípio, o golpe não teve nenhuma grande consequência. Foi apenas momentos depois que um segundo tremor foi sentido, muito maior. O chão atrás de Pyron se abriu, engolindo muitos soldados que, à esta altura, já estavam correndo para longe. Da cratera rastejou uma gigantesca montaria draconiana, muito maior do que qualquer criatura alada que Malak já tivesse visto em Firelands. Seu rugido ecoava pelo vale enquanto lava escorria de suas escamas. A criatura abaixou o pescoço e Pyron montou nela.



Tudo ao redor sentia o caos do choque de poderes, do ódio e da tensão aumentando. Uma tempestade se formou acima da planície, onde as nuvens vermelhas formavam redemoinhos no céu. A tempestade intensificou o movimento das almas perdidas, que eram jogadas de um lado a outro. Malak se encontrava em séria desvantagem agora. Nenhuma criatura que ela já havia montado poderia enfrentar aquilo. Nenhuma, a não ser... Em meio às almas que atravessavam o ar, uma em especial tinha uma silhueta familiar. Era o espírito da gaisra.

Malak:

Malak chegou a arquear uma sobrancelha ao ver Pyron parado e de braços cruzados, como se não a temesse em qualquer momento, como se aquela luta fosse nada além de uma brincadeira, uma diversão que terminaria com a cabeça da campeã enfeitando os corredores da enorme fortaleza. Ainda assim Malak soltou a flecha. Observou com enorme satisfação vê-lo atingido de maneira certeira e ainda fazendo com que caísse da arena suspensa.

Aproximou-se da borda e olhou para baixo, lamentando apenas a morte dos soldados que lutavam por ela. Cruzou os braços e permaneceu observando, ainda sem qualquer dano decorrente da luta com o grande e poderoso regente. Malak havia aprendido a nunca desdenhar de seus inimigos e Pyron parecia apenas começar a aprender a lição. Equilibrou-se com facilidade após o primeiro golpe do regente mas surpreendeu-se com a intensidade do segundo, ainda mais após ver surgir aquela enorme montaria.

A expressão que já era séria, tornou-se até mesmo sombria ao perceber que dificilmente o venceria agora que ele estava com aquela montaria. Nunca havia visto nada igual em toda Firelands e em qualquer lugar fora dali. Olhou para o céu ao ver a tempestade se formando e ver mais uma vez tantas almas sem guia, sendo jogadas de um lado a outro, era algo perturbador. Fechou e abriu os olhos duas ou três vezes assim que o espírito da gaisra foi identificado. Ou pelo menos ela esperava que fosse o espírito dela e que fosse possível ter seu auxílio. Sua morte ainda pesava sobre os ombros da campeã e pesaria sempre que se lembrasse do carinho mútuo entre ele e Seeje.

Não sabia se ela podia ouví-la, vê-la, nada disso. Nem se poderia ajudá-la a tentar vencer aquela guerra. Mas ainda assim, chamou-a em meio a tantos sons, em meio à tudo aquilo.

- Gaisra! - era sua esperança naquele momento.

Narrador:

O grito de Malak atravessou a tempestade e os diferentes planos, alcançando aquelas almas. A aura da gaisra era como uma forma translúcida de névoa flamejante em sua forma draconiana, como um fantasma em chamas, literalmente. Ela virou a cabeça na direção da campeã, enxergando-a, e voou até ela em seguida. Seeje não observava aquilo, pois lutava pela sua sobrevivência em sua criatura alada em meio aos inimigos e a tempestade.

A forma translúcida da gaisra pousou sobre a arena ao lado de Malak. Em um fenômeno impressionante e sem explicação, o poder da campeã fazia aquela chama fantasma ter uma forma física, o que permitiu à gaisra roçar o focinho em Malak em demonstração de carinho. A gaisra falou em seguida, sua voz contendo um eco estranho e ligeiramente distorcida:

- Campeã, o que...? O que está acontecendo? Como eu posso vê-la, ouvi-la e até mesmo... senti-la? Eu era parte da Grande Chama, mas perdi meu caminho. Todos nós nos perdemos.

Enquanto isso, a montaria de Pyron dava baforadas poderosas contra o solo, queimando dezenas de soldados.

Malak:

A gaisra era suaa única esperança para se igualar ao poder de Pyron agora que ele possuía uma montaria monstruosa. Não sabia, no entanto, se poderia ter sua ajuda já que ela não passava de névoa flamejante… Sua dúvida foi respondida assim que a gaisra pousou ao seu lado e passou a ter uma forma física. Malak não escondeu a surpresa diante daquilo: seus poderes estavam bem mais amplos que ela imaginava.

Sorriu pela demonstração de carinho que de certa forma aliviou seu coração da culpa por ter causado indiretamente sua morte. As perguntas da montaria desfizeram o sorriso no rosto da campeã com rapidez e eficiência.

- É uma longa história, gaisra. Eu consertarei isso assim que derrotar Pyron, todos voltarão para a Grande Chama. Mas para isso preciso da sua ajuda. Pode fazer isso? Por Firelands? Por Seeje? Por mim? - olhou rapidamente a montaria de Pyron e todo o estrago que ela estava causando. Precisava ser rápida. Voltou a olhar a gaisra diretamente em seus olhos.

Sabendo agora que podia dar forma física aos espectros, a campeã talvez usasse essa vantagem caso necessário fosse.

Narrador:

A gaisra olhou na outra direção, observando Pyron fazendo estrago com sua enorme montaria. A dragonesa começava a entender a situação aos poucos, como se estivesse lentamente saindo do torpor da além-vida e voltando à realidade, nem que fosse por tempo limitado. Ela balançou a cabeça e seu olhar agora estava focado. Ela respondeu com firmeza:

- Sempre lutarei por Firelands e por você, Senhora, neste plano ou em qualquer outro! - Ela abaixou o pescoço em seguida para que Malak pudesse monta-la mais uma vez e alçou voo, indo na direção de Pyron.

O poder de Malak, além de manter a forma física do espectro, o alimentava. O corpo fantasmagórico da gaisra aumentou e agora ela tinha tamanho suficiente para fazer frente à Pyron. Se por um lado a dragonesa poderia ferir seu adversário ao assumir um estado físico, isto significava que ela também poderia ser ferida. Pyron se aproveitaria disto. O regente notou Malak e sua antiga montaria vindo em sua direção. A presença da gaisra não era surpresa para Pyron, dada a tempestade de almas perdidas que se sucedia, mas o que o surpreendeu foi ver que o poder de Malak conseguia solidificar um espectro, algo que ele mesmo nunca conseguira.

Ele não temia as duas, entretanto. Partiu em disparada com seu monstro, fazendo as montarias se chocarem. Ele ordenaria à seu animal que mordesse o pescoço da gaisra, enquanto a cauda de sua montaria tentaria acertar Malak, as escamas agindo como pequenas lâminas que visavam cortar a pele da campeã. O golpe não teria força suficiente para derrubar Malak de sua montaria, mas causaria muita dor se bem sucedido.

Malak:

Sabia que a gaisra a ajudaria ainda que não estivesse com seus plenos poderes ou capacidades. Havia visto sua lealdade em vida e sentimentos como esses não mudam tão facilmente. Pelo menos era assim que Malak pensava e que sempre agiria. Sempre a favor de seus ideais e do povo de quem cuidava.

Montou no pescoço da gaisra e do alto pôde observar melhor o que acontecia e qual seria, talvez, o próximo movimento de Pyron.

- Ataque-os, gaisra. Foi Pyron que permitiu a entrada daquele cavaleiro que causou sua morte. Vingue-se. - curvou-se um pouco mais para conseguir falar a ela sem precisar gritar ou qualquer coisa do tipo. Queria uma motivação a mais, queria uma gaisra ainda mais feroz, impiedosa.

Ainda que tentasse se desviar da cauda da montaria de Pyron, Malak foi atingida e sentiu como se dezenas de pequenas lâminas cortassem sua pele. O gemido de dor foi contido, abafado pelo ódio que sentia. Conduziria a gaisra até uma distância segura para ter tempo de dar forma a um pilo, de extremidade mais afiada e fina, unida a uma parte mais pesada e resistente. A peculiaridade daquela arma residia no fato de que, uma vez penetrando no inimigo ou em sua montaria, a junção entre as duas partes se entortaria impedindo - ou dificultando muito - a sua retirada e causando prejuízos à sua movimentação e ataque.

- Permaneça o mais parada possível… - pediu à gaisra e, mirando com cuidado, lançou o pilo com a intenção de atingir Pyron. Porém, se atingisse a montaria… Também seria útil. Após o lançamento, daria a ela a liberdade para se movimentar e desviar ou atacar a montaria dele.

Narrador:

A gaisra soltou um rugido estrondoso ao saber que Pyron havia sido o responsável pela entrada do Cavaleiro da Peste. Ela mesma serviu ao regente por quase toda sua vida e, assim como Malak, sentiu-se traída por ele. Isto a fez lutar com maior ferocidade.

Após receberem os ataques da montaria de Pyron, a gaisra empurraria o grande dragão para longe de si usando suas patas, conseguindo afastar-se e flutuar como Malak havia ordenado. Ela voaria de maneira mais estável possível para oferecer firmeza à campeã enquanto a mesma mirava seu pilo, e não temia o fato de Pyron estar vindo de longe em carga contra elas. Poderia ser o último golpe. Malak daria tudo de si neste movimento e a gaisra confiava plenamente nela.