Combata Fogo com Fogo (Encerrado)

Parte 7

Insinerahin foi cumprir a ordem enquanto Seeje acordava. Ele mal podia acreditar no poder daquela criatura. Chacoalhou a cabeça e voltou à tempo de ouvir a ordem de Malak:



- Malditas criaturas controladoras de mentes. São todas covardes! Não durariam alguns segundos em uma luta! - Caso a consciência de Seeje se manteve ativa durante a invasão mental, então ele saberia que aquele dragão de duas cabeças era um "presente" de Ry'lwharf. Caso contrário, apenas uma frase de Malak seria o suficiente para explicar a presença daquela criatura. Ele diria em seguida:



- Senhora, este monstro pode nos atacar a qualquer momento. Não importa o que aquela criatura tenha oferecido e independe se ela serve à Pyron ou não. Isto pode ser uma óbvia armadilha! Parece que até mesmo as fagulhas dos vulcões de Firelands estão tentando matá-la hoje!



Invasores de mentes, dragão de duas cabeças, soldados traidores, uma assassina de Pyron andando pelos corredores do castelo. Era um dia cheio para o Mestre de Armas que parecia literalmente exalar chamas enquanto andava.



Ao final do dia, havia um mensageiro de raça flamejante na sala do trono e muitos soldados ao redor de Malak. Ela notaria que eram soldados mais novos e de rank inferior, mas eram todos da raça nativa de Firelands e que já serviam no castelo há muitos anos. Seeje adentrou a sala e antes que Malak pudesse dar ordens ao mensageiro, ele disse:



- Senhora, após resolvermos assuntos pendentes aqui, sua presença foi requisitada pela... Assassina... No pátio central. Ela encontrou os traidores de Pyron. Ou diz ter encontrado.

Dragão

Foi então que o dragão, mesmo estando do lado de fora, com sua audição draconiana, e se nào duplamente aguçada, se pronunciou ao manter sua cabeça rente ao castelo.

- Controle mental teria sido uma ótima alternativa para começar a trazer primeiro os soldados mais baixos.

- Pyron possui muita quantidade e qualidade.

- Se eliminarem um, o outro poderá suprido pela própria horda.

- A horda fará isso sem esperar troca de favores.

Por estranho que fosse, cada cabeça mantinha pensamentos paralelos e ao mesmo tempo podiam se comunicar em harmonia, um feitio pouco raro para quem conhecia as leis da natureza. Sua voz era bem chamativa e poderosa para ser ouvida por todos os corredores, bem no caso, suas vozES.

- Campeã de Firelands, permita-me introduzir minha ajuda.

- Afinal, como os mortais dizem, "duas cabeças pensam melhor que uma", não?

- Sim, Seeje. Essa criatura pode matar todos aqui. Inclusive Pyron. - aproximou-se mais do dragão, observando as duas cabeças por mais algum tempo antes de testá-lo com uma ordem simples de que se colocasse ao lado do castelo. Mais tarde veria como testar e o que fazer com o dragão. - Testarei-o mais tarde, Seeje.

Voltaria para dentro do castelo, concentrada em pensar como agir a partir dali. Estava em dúvida se deveria ou não realizar uma investida contra Pyron, em represália à tentativa de assassinato. Teria muito o que pensar até o final do dia.

Quando reunidos na sala do trono, Malak permaneceu algum tempo observando os novos soldados, um a um. Restava esperar que dessa vez a escolha de Seeje tivesse sido melhor e mais criteriosa.

- Insinerahin deverá aguardar até que eu resolva tudo aqui. Ainda tenho outra ordem para testá-la. Enfim... Seeje, está seguro de que os escolhidos são fieis e confiáveis? Ou terei mais cabeças adornando o castelo, ao lado daquelas duas? - falou enquando ainda olhava os soldados mais novos, mas a especulação durou pouco. Sentou-se outra vez em seu trono.

- Vamos começar a investida contra Pyron, Seeje. A tentativa de assassinato terminou com minha paciência, com minha tolerância.. O que tem a me dizer?

Parte 8

Seeje deu uma rápida olhada para os soldados e depois para Malak, respondendo:

- Eu os treinei pessoalmente, Senhora. Eu lhe asseguro a lealdade deles. São nativos de Firelands e, antes de se juntarem ao exército, sempre viveram na região. Todos os soldados que vieram do exército de Pyron estão afastados. - Seeje fez uma pausa e, como era raro a ele, hesitou por um momento antes de continuar a falar e responder a segunda pergunta de Malak:

- Senhora... Nosso exército é numeroso, mas, segundo os relatórios dos batedores, não alcançamos sequer a metade do número de soldados de Lord Pyron. Temos cerca de quinhentos homens que são guerreiros de elite e cada um deles pode derrubar muitos adversários, mas o resto do contingente consiste em soldados com apenas alguns meses de treinamento. Os guerreiros de Pyron são anciões, alguns deles chegaram perto de se tornarem campeões, além das bestas mágicas que Pyron pode invocar, as máquinas flamejantes de guerra, os leviatãs voadores... Enfim, o exército dele é formidável, como não poderia deixar de ser. Mesmo com a melhor estratégia do mundo, não temos força para um confronto direto. Seríamos massacrados.

- Claro que seriam. - A voz de Insinerahin foi ouvida do lado de fora da sala do trono. Os soldados impediram sua entrada por protocolo até que Malak ordenasse alguma coisa. Seeje se virou para a assassina, irritado:

- Você deveria esperar no pátio central! O que diabos está fazendo aqui?! - A assassina respondeu com desdém, bloqueada pelos soldados:

- Eu cansei de esperar. Malak Nawar, mesmo com um exército maior do que o dele, você nunca conseguiria derrotar Pyron. Eu posso lhe dizer o motivo e sei o que você deve fazer para derrotá-lo.

Malak

Malak nunca ficava muito satisfeita quando era contestada, não importava por quem ou se havia motivo para a contestação ou não. Dessa vez, havia. Mas nem por isso Malak sorriu de alegria, não é? Estava outra vez sentada, olhando alternadamente o grupo e Seeje.

- Pyron... - resmungou, calando-se um pouco antes de erguer o olhar ao ouvir a discussão entre seu Mestre de Armas e aquela que estava sendo testada.

- Parecem duas crianças... - gesticulou para que os soldados liberassem a entrada da assassina, certa de que Seeje e sua nova guarda real cuidariam para impedir qualquer investida dela. - Já tenho todas as cabeças de traidores?

Arqueou as sobrancelhas assim que ouviu as duas vozes guturais dos dragões que deveriam ser nada além que presentes. Bufou mais uma vez, já que aquele dia estava dando mais dor de cabeça que o habitual. Agora presentes falam? Contestam?? Estava tudo mais bizarro que o normal.

- Não quero envolvimento da horda, seja-lá-qual-o-seu-nome. Já disse isso ao mensageiro e mantenho a minha posição. Se tem serviços para oferecer, que sejam sem vínculo com a sua ex-proprietária, a horda. Fui clara? - não elevou a voz, já que eles pareciam ter audição aguçada o bastante para ouvirem um tom de voz normal. Voltou o olhar para Seeje e Insinerahin, parando na última. - Fale o que sabe e que pode nos ser útil para a derrota de Pyron. Erre, minta ou prejudique e pagará caro... Trabalharemos em conjunto e, quem sabe, terá um lugar sob comando de Seeje.

Parte 9

Seeje não acreditou quando soube que poderia ter a assassina como subordinada:

- O quê?! Mas, Senhora...! - E se interrompeu, sabendo que Malak não aceitava contestações. Os soldados se afastaram e Insinerahin se aproximou, achando engraçada a decepção de Seeje, mas não comentando nada a respeito:

- Os traidores estão esperando no pátio. Eu disse a eles que receberiam uma condecoração especial da Senhora por sua dedicação ao exército. Eles não sabem o que ocorreu neste sala anteriormente. Alguns possuem a tatuagem de Pyron bem evidentes, como no rosto ou antebraço e mãos. É melhor que a Senhora revele suas tatuagens e dê cabo deles. Eu seria perseguida se começasse a matar soldados dentro de seu castelo. Além disso, servirá como exemplo aos outros traidores e aumentará a sua moral e do grupo. Um exército sem traidores é um passo importante, mas, como eu havia dito, não será o suficiente. - Ela fez uma pausa, ficando bem próxima de Seeje de propósito, e continuou, fitando Malak:

- A chama que queima dentro de você é maior do que de qualquer outro ser em Firelands, maior até do que do próprio Lord Pyron. Mas há algo segurando este seu poder. Você deve se lembrar de quando renasceu, Malak. Quem foi o seu guia. O Oráculo Cego. – Fez uma pausa, fitando Malak, como que se certificando de que ela se lembrava. Continuou em seguida:

- O Oráculo Cego fez você renascer nas chamas, mas, como o próprio Pyron me revelou, ele controla o Oráculo. Ele fez o Oráculo lhe dar apenas uma parcela dos poderes que você pode ter. Ele lhe deu o Punho da Fênix, mas o fez mais fraco de propósito. É ele quem está segurando todo o seu potencial. O Oráculo Cego precisa morrer para que todo o seu poder seja liberado e então você será capaz de derrotar Lord Pyron, Malak.

Malak

O olhar para Seeje foi quase fulminante. De fato odiava contestações, ainda mais quando considerava que era a melhor decisão.

- Prefere ser subordinado a ela, Seeje? Isso pode ser resolvido imediatamente! Se estiver cansado de ficar apenas sob as minhas ordens… - era óbvio - ou deveria ser - que não colocaria uma possível traidora em um nível superior ao dele. Insinerahin ficaria diretamente sob as ordens do Mestre de Armas por Malak ter plena confiança de que ele a vigiaria todo o tempo, mediria seus passos e suas ações.

Após um suspiro breve de irritação Malak voltou a prestar atenção no que a assassina falava. Poderia fazer sentido derrotar o Oráculo para se tornar mais poderosa… Precisaria de um tempo sozinha para se lembrar de como acessá-lo e de como poderia matá-lo sem grande alvoroço e sem grandes perdas.

Levantou-se, ajeitando rapidamente as roupas enquanto se aproximava do casal.

- Pensarei nisso mais tarde. Um problema de cada vez. - passaria por eles, caminhando até o pátio onde estavam todos os soldados. Parou diante do grupo e sorriu, cumprimentando-os antes de caminhar próximo e olhar todos um a um. Reparou nas tatuagens mais expostas e gesticulou para que a nova guarda real os cercassem.

- Todos aqui reunidos receberão uma homenagem pelos serviços prestados a mim e ao exército sob meu comando. Vi as demonstrações de eficiência e agradeço por ter desertado e se juntado aos meus homens. Firelands cantará seus nomes no futuro, todos saberão o que fizeram por mim. - E parou outra vez, diante de todos e a alguns metros de distância. Indicou todos os que possuíam as tatuagens visíveis mesmo vestidos para que tomassem a frente do grupo. Seu corpo tornou-se fogo outra vez, como já há algum tempo não acontecia.

Todos aquele grupo inicial, de tatuagens visíveis, seria executado de uma única vez por labaredas que deixaram seu corpo e que, como se fossem de aço, decapitaria-os. Aqueles ainda vivos, ouviriam-na.

- Traições não são toleradas. Serão todos punidos com a morte e que sirvam de exemplo e alerta ao restante dos meus comandados. Vocês, que ainda estão vivos e possuem a símbolo de Pyron em suas carnes, dispam-se. Agora. - olhou Seeje e Insinerahin uma vez mais. - Aquele que se recusar, atacar ou tentar fugir, matem.

Parte 10

Os soldados ainda vivos se entreolharam rapidamente e foi necessário apenas um segundo para que concordassem mentalmente com o que fariam a seguir. Nenhum deles cumpriu a ordem de se despirem e um deles sacou a espada e gritou:

- Chama Eterna à Lord Pyron!! Morte à campeã traidora!!

Os demais também sacaram suas armas e correram na direção de Malak para atacá-la. Eram cerca de 20 soldados. Seeje e Insinerahin agiram imediatamente. O Mestre de Armas partiu em velocidade contra os atacantes e conseguiu derrubar 3 deles de uma vez. Insinerahin sacou sua espada e decapitou mais 3 com grande habilidade, utilizando um estilo que combinava o manuseio da lâmina com pequenas acrobacias. Os soldados leais à Malak também se envolveram na luta e o pátio virou cenário de uma pequena batalha. Os fanáticos restantes ainda partiam para cima de Malak. Eles sabiam que não sobreviveriam, mas eram leais à Pyron até a morte.

Malak

Malak bufou assim que um deles sacou a espada e a ameaçou. Já sabia que Seeje a defenderia mas precisava ver até onde Insinerahin iria para manter a vida da campeã. Podia reagir, podia matar todos sem esforços mas gostou de ver a dita desertora assassinando 3 deles com uma habilidade que seu mestre de armas não possuía. Os outros 14 soldados foram atingidos por aquelas mesmas chamas, agora mais rápidas e agressivas que quando foram "homenagear" aqueles primeiros.

Ao terminar a "limpeza" do exército, Malak apontou para um dos soldados aliados e ordenou que distribuísse as cabeças por todas as proximidades do castelo, como aviso ao que ocorreria aos traidores.

- Entrarei. Preciso me lembrar de onde achar esse oráculo outra vez.

Parte 11

A ordem de Malak seria cumprida imediatamente e as cabeças dos traidores colocadas nas pontas de lanças e espalhadas ao redor do território do castelo. Ao final da pequena batalha, os soldados fiéis gritaram o nome da campeã à plenos pulmões e bateram suas armas contra os escudos ou armaduras, produzindo um som metálico alto.

Insinerahin permaneceu no pátio. A presença dela não era mais tão incômoda aos soldados, pois viram que ela lutou ao lado da campeã. Seeje, por outro lado, não estava tão convencido da lealdade da assassina. Ele acompanhou Malak até a sala do trono e pediu privacidade por alguns minutos. Se Malak permitisse, retiraria todos os soldados e trancaria a porta dupla, para então falar a ela:

- Senhora, vamos pensar com cuidado por um momento! Ainda não sabemos se podemos mesmo confiar naquela mulher! Como ela sabe tantas coisas sobre você?! Como ela sabe que seus poderes aumentarão matando o Oráculo?! E se acontecer o contrário?! E se tudo isto não passar de uma armadilha de Pyron?! - Seeje parou por um momento, sendo coberto pelas próprias perguntas, e finalizou:

- Se o Oráculo tiver mesmo que morrer, então eu o matarei com a Senhora, onde quer que ele se encontre!

Malak

Malak saudou os soldados enquanto gritavam seu nome, com o sorriso tranquilo apesar de seus pensamentos serem de preocupação. A campeã entrou logo em seguida, permitindo que Seeje conversasse com ela com a privacidade pedida. Sentou-se e suspirou longamente antes de começar a ouví-lo. A guerra nem mesmo havia começado e já enfrentava problemas de traição, desertores suspeitos…

- Seeje, eu entendo sua preocupação e também tenho o mesmo pensamento. Tenho receio de seguir o que ela diz, não sei se ela fala de fato a verdade, ou mesmo se matou aqueles soldados apenas para manter sua imagem. Preciso que reúna conjuradores capazes de perceber qualquer coisa errada com ela. Além disso, envie um espião ao território de Pyron. Precisamos saber o que ele pensa e planeja, quem sabe até descobrir algo mais. Até lá, Seeje, Insinerahin deverá ser vigiada 24 horas por dia por soldados confiáveis e discretos. Não podemos inibí-la se pensamos em flagrá-la.

Recostou-se melhor depois de falar tanto, dando uma breve pausa no raciocínio.

- Serei sempre grata é sua lealdade, Seeje. No começo achei que teria em você um problema, um obstáculo, tamanho seu ódio por mim. E não pense que me esqueci. Vingarei a morte da Gaisra.

Parte 12

A menção do nome de gaisra fez Seeje parar por um instante e fitar Malak. Ele falou em um tom mais ameno:

- Eu sei que se vingará, Malak. Destruirá aquele que ordenou esse ataque à Firelands e quando o fizer, eu estarei ao seu lado para compartilhar desta vingança, em nome da gaisra. Apocalypse não sabe o tamanho do erro que cometeu ao irritar a Senhora das Chamas e futura regente de Firelands. - Fez uma pausa e continuou: - Eu admito, eu não achava que tivesse o necessário para ser uma campeã, muito menos alguém que fizesse frente à Pyron. Mas você se tornou a líder de que Firelands precisa e é por isto que eu sou leal a você. Gaisra, com seu último suspiro, mandou que eu ficasse sempre ao seu lado e a protegesse. E é isto que farei até que eu retorne à Grande Chama.

Seeje fitou Malak por alguns momentos e parou de falar. Se Malak devolvesse o olhar pelo tempo prolongado, seria a primeira vez que seus olhares se cruzariam por tanto tempo. A campeã podia notar os olhos cor de fogo do flamejante e todos os sentimentos escondidos por trás de sua constante auto-afirmação e a busca pela honra. Seeje tinha traços físicos bonitos, mesmo para os padrões de beleza de um humano comum. Tinha a pele vermelha escura, quase preta, e os olhos negros com iris alaranjadas. Seu corpo era repleto de cicatrizes, mas estava em plena forma. Seus cabelos longos também eram da cor do fogo quando estava agitado, mas permaneciam em um tom carmesim quando tranquilo.

Os momentos em que se olharam pareceram muito longos. Seeje desviou os olhos, finalmente, pigarreando e voltando a se concentrar em suas tarefas imediatas:

- Muito bem... Temos três espiões disponíveis mas será sensato enviar apenas um deles, para não levantar suspeitas. Eles possuem habilidades distintas. Eu os trarei aqui para que a Senhora possa escolher qual mandar. Passarei aos soldados as novas diretrizes: Ficar de olho em Insinerahin de maneira discreta. Ordenarei aos conjuradores que realizem verificações mágicas de forma que ela não perceba para saber se ela está mentindo. Apesar de que... Ela resistiu àquela criatura. Como ela conseguiu aquilo? Não importa, será apenas uma questão de tempo até ela se revelar, tenho certeza. Devo trazer os espiões agora para que a Senhora escolha?

Malak

Malak ouviu-o com plena atenção. Valorizava imensamente a opinião de Seeje e seu conhecimento em estratégias e guerras. Ele era, afinal, um guerreiro e muito mais experiente que ela, que havia "caído de pára-quedas" naquela função, algo inimaginável para ela na época em que era enganada pelo Imperador. Achava que seu destino seria retornar ao deserto e lá viver até seu último dia.

- Eu agradeço, Seeje, toda sua lealdade e confiança. Reconheço que sua ajuda é absolutamente essencial, sua experiência é muito maior que a minha em guerras e estratégias. Eu não poderia ter um Mestre de Armas melhor.

A Campeã devolveu o olhar, como havia feito inúmeras vezes mesmo quando Seeje não correspondia ou estava distraído ou ocupado demais. Seu olhar era tranquilo, ficava à vontade em sua presença e com seus conselhos. Era quando se sentia um pouco menos solitária, quando recebia dele a atenção mesmo que para assuntos como aqueles. A solidão era constante e incômoda, desde os tempos do Império, embora agora estivesse agravada pela falta de contato com mais pessoas ou eventos "sociais". Eram apenas problemas, guerras, traições e mais problemas. Observar alguém como Seeje mesmo que por instantes, prestando atenção em como era bonito, exótico aos seus padrões e com aqueles cabelos longos. Poderia se perder por mais tempo olhando-o e, sim, desejando.

Ela mesma suspirou assim que o mestre de armas desviou o olhar e voltou a falar.

- Sim, sim, Seeje. Insinerahin deverá ser hospedada em algum local próximo e sempre vigiado, não a quero pelos corredores do castelo desacompanhada. Faça o que for preciso para tentar descobrir o que há com ela, temos que desconfiar até das nossas sombras em tempos como esses. Pode trazer, sim, escolherei com sua ajuda o que for mais adequado.

Parte 13

Seeje fez um afirmativo e deixou a sala do trono. Precisava de alguns minutos para reunir os espiões. Voltaria depois de algum tempo, trazendo consigo também os soldados da guarda, que retomavam suas posições na sala do trono. Três figuras distintas pararam diante de Malak e Seeje à frente delas. O Mestre de Armas começou a falar então:

- Estes são nossos melhores infiltradores, Senhora das Chamas. Cada um deles tem um estilo próprio e caberá à Senhora decidir o que será mais adequado à esta missão. A assassina Insinerahin poderia nos fornecer maiores detalhes da fortaleza de Pyron por espontânea vontade ou através de tortura... - Um brilho de satisfação surgiu nos olhos de Seeje ao pensar na possibilidade - Mas é melhor que ela sequer tome conhecimento desta operação, ou ela poderia alertar as forças de Pyron. Todo cuidado é pouco! - Ele apontou a primeira figura da esquerda para a direita e começou a explicar:

- Esta é Cast, pertencente a uma das raças nativas de Firelands.

Ela possui poderes semelhantes aos de uma Succubus. É preciso ser muito resistente para lutar contra a sedução de Cast, tornando a lista de imunes extremamente pequena. Ela usará de sua sedução para ludibriar membros do alto escalão do exército de Pyron e extrair seus planos. Embora suas habilidades sejam excelentes, ela terá que agir como uma convidada o tempo todo e chegar próxima de Pyron poderá ser um grande desafio. Outra desvantagem é que ela é péssima em combate. - Cast dá uma risadinha quando Seeje cita isto. – Se ela for capturada, não escapará. Por outro lado, ela é uma das pessoas mais resistentes à tortura que já vi em vida. Chego a achar que ela gosta da dor. Nossos segredos estão seguros, caso ela seja capturada. – Ao final da explicação de Seeje, Cast mandou um beijo para Malak e disse, com um sorriso irônico e uma voz sempre maliciosa:

- A dor é apenas uma forma diferente de prazer, minha Senhora. – Seeje então apontou a segunda pessoa e falou:

- Este é Sigmund. Ele é especialista em ilusões e pode mudar a própria aparência, assumindo a forma de qualquer pessoa que ele tenha tocado.

Sua ilusão tem grande duração e é preciso muita experiência para ver através de sua artimanha ou usar uma contra magia para desfazê-la. Ele poderá chegar facilmente até Pyron e extrair grande quantidade de informações. Será difícil captura-lo, pois sua ilusão é perfeita. Caso seja preso, assim como Cast, ele não possui habilidades de luta e não resistirá muito tempo à tortura. – Sigmund fez uma reverência à Malak e, no meio do movimento, ele se transformou em Seeje. Era impossível dizer a diferença entre Sigmund e Seeje no momento sem uma análise mágica. Malak conseguiria se tentasse, mas era uma capacidade reservada a poucos. Ele falou então, e até sua voz era idêntica à de Seeje:

- Será uma honra colocar minha vida à sua serventia, futura regente de Firelands. Eu lamento não ser tão bom contra dor como a senhorita Cast. – E se transformaria em Sigmund novamente. Cast daria nova risadinha e comentaria algo como: “Eu posso lhe ensinar em particular mais tarde.” O Seeje original continuaria em seguida, apontando para a última pessoa:

- Esta é Silat. É uma assassina fria, rápida e eficaz.

Ela se infiltrará nas fileiras de Pyron e ele nem perceberá. Ela será uma sombra, entrará e sairá da fortaleza sem ser vista. Ela conseguirá informações cruciais, talvez não tanto quanto Sigmund, mas um bom número de qualquer maneira. Ela lutará bravamente caso seja descoberta. Sua resistência à tortura é mediana, mas ela conseguirá escapar de qualquer calabouço ou masmorra onde seja jogada. Ela irá se livrar de qualquer um que esteja entre ela e a informação. Qualquer um... Incluindo qualquer pessoa inocente. Crianças, idosos, habitantes que não estão envolvidos. Ela eliminará qualquer um que seja um obstáculo ao seu objetivo. – Silat fez uma reverência, girando uma adaga em cada mão com habilidade surpreendente, e então disse, com uma voz feminina, mas ligeiramente rouca:

- Nada ficará em meu caminho para que sua vontade seja feita, Senhora das Chamas. – Seeje fitou Malak finalmente, dizendo:

- Estes são os três, Senhora. Poderá fazer qualquer pergunta sobre eles ou diretamente a eles para ajudar em sua decisão.

Malak

Não respondeu nada mais a Seeje, apenas observou-o deixar a sala. Outra vez sozinha, pensou enquanto bateu os dedos no apoio de braços do trono. Não havia muito o que fazer além de se acostumar, uma vez que quando regente de Firelands a solidão seria uma companheira frequente. Por fim dispersou aqueles pensamentos, erguendo os olhos quando o mestre de armas entrou com a guarda real e os candidatos. Olhou um a um pausadamente antes de voltar a atenção a Seeje.
Ouviu atentamente todas as informações sobre cada um deles, embora permanecesse em silêncio e aparentemente inexpressiva por todos aqueles instantes até o final das apresentações. A capacidade de Sigmund de disfarçar-se foi o que mais a impressionou a princípio, já com alguma ideia do que poderia fazer.
- Nenhum deles é “completo”, Seeje, e isso dificulta um pouco... Mas a princípio... Sigmund, pode se transformar em Insinerahin? Ela deveria me matar, supostamente. Seu retorno pode ser esperado por Pyron. Ou não… – por fim olhou SIlat e Cast, cruzando os braços. – Cast, use sua… sedução para os membros do alto escalão, como dito por Seeje. Silat deverá esperar, será meu último recurso.

Parte 14

Todos ali ouviram falar do que aconteceu no pátio e de como a suposta assassina de Pyron ajudou a Senhora das Chamas, portanto, Sigmund sabia de quem ela falava, e respondeu:

- Eu nunca toquei a assassina, minha Senhora. Eu precisaria deste contato físico primeiro para que eu pudesse assumir sua aparência. E uma vez diante de Pyron, o que eu devo responder a ele? Que fui bem sucedido em minha missão? - Seeje o interrompeu por um momento e disse:

- Se me permite, Malak, eu tenho uma ideia de como podemos fazer Sigmund tocar Insinerahin de modo que ela não desconfie e ainda poderemos retirar algumas informações da assassina. - Em seguida, Cast respondeu:

- Será feito, minha Senhora. Retornarei em alguns dias. Caso eu não volte, saberão que é porque estou em algum calabouço, sendo torturada ferozmente por um carrasco alto e forte, sem camisa e...

- Muito bem, Cast, nós já entendemos. - Disse Seeje, impedindo que aquela descrição ficasse com detalhes demais. Silat apenas fez um afirmativo com a cabeça e uma reverência. Não parecia aborrecida por não ter sido acionada. Seeje então dispensou Silat e Cast, caso Malak não quisesse conversar mais nada com elas, e grande parte dos soldados, ficando apenas Sigmund ali perto. Seeje continuou então:

- Malak, a ideia é fazer Sigmund se passar por mim e se encontrar com Insinerahin aqui mesmo no castelo. Ele irá tentar ludibria-la a revelar informações sobre as defesas de Pyron, mas sem deixar transparecer que estamos agindo contra ele. Ou talvez Sigmund tente fazê-la confessar que a ajuda dela é uma grande farsa. Não sei. Qualquer coisa retirada dela será proveitosa, penso eu. Poderemos observar e ouvir a conversa utilizando a magia presente nestas paredes.

Parte 15

Sigmund se retirou imediatamente frente à ordem de Malak. Era de fato uma pessoa estranha, a julgar pela sua aparência, pelos objetos pendurados em seu corpo e até mesmo pelo cheiro de ingredientes de poções que emanava. Era claramente uma pessoa inteligente e talvez por isso tenha se juntado à causa da campeã. E agora, mais do que nunca, colocaria toda sua habilidade à prova.
 
Seeje se sentou no móvel ao lado do trono e respondeu frente à ordem de Malak:
 
- Será feito, Malak. Ordenarei para que Silat fique sempre próxima de você, escondida nas sombras, e nenhum assassino ou traidor terá o elemento surpresa. Ela é plenamente confiável, dou-lhe minha palavra. Mas, de qualquer maneira, qualquer imbecil que tentar lhe atacar terá que passar por mim primeiro. – Disse, com firmeza. Em seguida, fez sinal para um dos serventes e este lhe trouxe um bando de papéis. Fitou Malak, dizendo:
 
- Senhora, enquanto aguardamos os preparativos de Sigmund, talvez devesse dar atenção a algumas questões relativas ao povo de Firelands. Somos uma nação guerreira, mas precisamos das mesmas coisas que qualquer outra nação precisa, e Pyron deixou de lado estas coisas ao longo dos anos. Se você der a mínima atenção a estes casos, o povo perceberá que você se preocupa com eles e mostrará a aqueles que ainda não se juntaram à sua causa, que você é melhor do que Pyron. Ou você pode apenas ignorar estas petições e eu rasgarei estes papéis se desejar. – Seeje reorganizou os papéis e continuou:
 
- Temos três petições, com um representante para cada uma e eu mandarei que eles entrem para declarar seus pedidos, caso a Senhora deseje. A primeira é um pedido de ajuda para uma vila que está sofrendo frequentes saques de um grupo de bandidos. A segunda é um pedido de asilo político de um governante de Atlan. Pela Grande Chama, este sujeito está longe de casa, como diabos veio parar aqui?! Enfim, a terceira é um protesto ativista que é contra a regência de Pyron, mas também é contra a sua. – Seeje se irritou com a última e disse:
 
- Peço para que deixe estes protestantes entrarem, Senhora, para que eu possa SOCÁ-LOS até eles aprenderem seu devido lugar!

Malak

Malak observou a saída de Sigmund antes de voltar toda a atenção a Seeje e pedir que a assassina fosse usada para sua proteção. Não conseguiu evitar o sorriso ao ouvir, daquele mesmo ‘homem’ que a desafiava, a declaração de que a defenderia até a morte.

- Agradeço sua lealdade, Seeje. Confio minha vida a você. – disse enquanto observava todos aqueles papeis sendo organizados.

- Sim, já passei algum tempo pensando no que fazer para melhorar a condição de todos. Buscarei mais alianças assim que possível. Até lá, usarei meus recursos para amenizar um pouco as faltas. Enfim, fale a quem pertencem as petições.

Ouvia tudo muito séria mas, assim que Seeje exclamou o pedido para espancar os ativistas, Malak deu uma boa risada descontraída. Colocou a mão sobre o joelho dele, quase em tom de cumplicidade.

- Seeje! A ideia me parece extremamente tentadora... Mas acho que isso só favoreceria Pyron. – endireitou-se, recolhendo a mão que o tocou por breves momentos. – Tenho muitos planos para Firelands. Não quero ver um lugar que me acolheu tão bem, que confiou tanto em mim, permanecer assim descuidado. Centenas perderam a vida defendendo Firelands sob nosso comando, melhorar a vida de suas famílias e de outros é o mínimo que poderia fazer. E é o que pretendo, se tudo der certo. – suspirou, encostando a cabeça no encosto de madeira – SE tudo der certo. Enfim, chame os representantes dos três grupos, vamos ouví-los.

Parte 16

Quando Malak tocou seu joelho, a pele de Seeje por baixo de sua calça se acendeu como chama por breves segundos. Era o resultado do poder de Malak sendo transmitido através de seu corpo, mesmo por um toque tão breve. A chama dentro de Seeje queimava com intensidade. Não tanto quanto à de Malak, mas acima da maioria dos habitantes flamejantes. Portanto, quando eles se tocavam, suas chamas reagiam de maneira violenta.

O Mestre de Armas fez um afirmativo frente ao que Malak falou sobre as famílias daqueles que se juntaram à Grande Chama e procurou se acalmar, mandando chamar o primeiro representante:

- Chamo à sala do trono a senhora Lya, habitante de uma vila na fronteira norte do reino. Lya, você está em audiência com a campeã de Firelands. Apresente sua petição com respeito e de forma breve.

Uma mulher se aproximou do trono então e parou diante da escadaria. Tinha a pele vermelha característica do povo da Terra Flamejante. Seus trajes estavam sujos e rasgados. À esta altura, Malak já havia se acostumado com a aparência do povo vermelho e podia dizer que aquela mulher já tinha seus quarenta anos. Ela fez uma reverência respeitosa à Malak e começou a falar, a voz cansada mas determinada:

- Campeã Malak Nawar, venho até aqui pedir ajuda para proteger minha vila. Moramos próximos da fronteira norte, depois dos domínios de Lord Pyron. Centenas de soldados de Pyron desertaram, vindo para o sul, mas estes mesmos soldados eram responsáveis por proteger nossa região. Sem eles, as tribos de fora atravessaram a fronteira e estão saqueando muitas vilas por lá. Lord Pyron não repôs os soldados. - Fez uma pausa, ajeitando um lado da roupa que insistia em deslizar pelo ombro, e continuou:

- Sou uma mulher guerreira e valente como qualquer outro habitante digno de Firelands. Eu lutei contra os forasteiros e cheguei a matar alguns deles para proteger meus filhos. Mas eles estão em grande quantidade e não temos armas decentes e nem treinamento militar. Peço humildemente por sua ajuda, campeã do fogo. - E abaixou a cabeça. Devia estar cansada e faminta, pois atravessou quase o reino todo para chegar até ali.

Malak

Malak sorriu ao ver aquela chama por breves momentos. Sabia do quanto a chama brilhava em Seeje e por tantos motivos nutria grande admiração por ele. Sentimento que crescia um pouco mais a cada dia e que tentava ser reprimido pelo lado racional de Malak. Ainda riu mais uma vez, brevemente, ao se lembrar do pedido do mestre de armas para espancar os 'revoltados'.

Tornou-se outra vez séria apenas quando Lya entrou na sala. Observou-a dos pés a cabeça, pensando o que havia enfrentado para chegar até ali. A fronteira norte era de fato muito longe. Olhava-a enquanto ouvia seu relato, passando a mão pelos cabelos e então pelo rosto. Seria uma boa oportunidade para expandir sua influência e conseguir mais apoio, daquelas vilas que precisavam de proteção.

- Lya… - Malak levantou-se, descendo as escadas até estar diante dela, no mesmo nível. - Enviarei soldados para que não apenas protejam mas também eliminem de vez esses saqueadores, cederei armas e alguém para treinar aqueles que estiverem dispostos a ajudar as tropas no combate aos forasteiros. Sua vila e outras que estejam desprotegidas estão agora sob minha proteção. Não se preocupe. - Chamou um dos servos, olhando-o quando próximo o suficiente - Leve-a para que possa descansar e se alimentar. Ela partirá com aqueles que Seeje designar para que cumpram minha decisão.

Quando a mulher e o servo se afastassem, Malak voltaria para o trono.

- Seeje, escolha quem e quantos achar necessários. Escolha algumas armas, montarias e alguém capaz de treinar rapidamente os jovens das vilas. Chame o próximo, por favor. Aquele de Atlantis, não é?

Parte 17

O servo fez um afirmativo e antes que eles se afastassem, Lya se curvou à Malak e disse:

- Obrigado, Malak Nawar, muito obrigado. Seu nome ecoará pelo norte, colocando medo nos forasteiros e quem mais ousar invadir nossa terra. - Quando se afastaram, Seeje respondeu:

- Será feito, Malak. Pyron provavelmente não quer mais nada com aquela área, já que a abandonou por completo, portanto, nossos homens não terão problemas com as forças dele. Além de ajudarmos as vilas, ali nascerão os novos soldados de seu exército no norte, aumentando nossas fileiras e influência. Providenciarei tudo assim que a sessão acabar. - Finalizou Seeje, voltando a ler os papéis e respondendo à Malak:

- Sim. Atlantis... Atlan. Qualquer coisa assim. É aquele lugar com muita água. Eu chamo à sala do trono o senhor Lince Evans, vindo diretamente do arquipélago de Atlan. Senhor Evans, você está em audiência com a campeã de Firelands. Apresente sua petição com respeito e brevemente.

Um homem bem vestido adentrou a sala e parou diante da escadaria. Tinha o cabelo impecável, roupas limpas e alinhadas e o sorriso mais branco que qualquer um ali já tinha visto. Olhava ao redor a todo instante, observando a arquitetura do castelo, e chegou a agradecer aos dois soldados que o acompanharam até ali e que se afastaram em seguida:

- Excelente, excelente, muito obrigado, muito obrigado... Belo castelo, muito belo mesmo, mão de obra foi barata? Material é de boa qualidade? - Dizia a si mesmo em tom mais baixo de voz, mas perfeitamente audível à Malak e Seeje. Seeje pigarreou fortemente, chamando à atenção Lince, que começou a falar:

- Muito boa tarde, ou seria noite? Eu nunca sei em Firelands, este céu vermelho, confundindo todo mundo. Ha-ha-ha! Excelentíssima campeã e Senhora das Chamas Malak Nawar, muito obrigado por receber Lince Evans em seus domínios, como o seu... Braço direito anunciou, não é mesmo? Ha-ha-ha! - As pequenas risadas entre as frases chegavam a ser irritantes. Tentava sempre transmitir um carisma que não tinha de um jeito que não sabia para conseguir o que queria. Resumindo: Era um político. Ele continuou então:

- Veja bem, excelentíssima Exaltada da Chama Eterna... - Aquele termo não existia em Firelands. - Eu possuía muitos escravos em Atlan, dezenas deles, que trabalhavam muito! Eu os tratava muito bem, desferia apenas dez chibatadas em quem parava para descansar ao meio dia e eu permitia que lavassem suas mãos antes de comer... Na maioria das vezes. Ha-ha-ha! De qualquer maneira, eu não estava fazendo nada de errado, tuuuuudo dentro da lei, Campeã Grandiosa da Chama da Justiça! - Malak podia se recordar de que a escravidão é legal em Atlan. Ele seguiu: - Eu era um homem do povo, que defendia os direitos dos cidadãos daquele arquipélago! Eu sempre fiz de tudo por eles! - Fez uma breve pausa. Ele gesticulava muito, até demais. Continuou:

- Mas, veja bem... Mesmo com meus cortes no orçamento, os escravos eram caros para manter e eu... Acabei devendo algum dinheiro para algumas pessoas! Ha-ha-ha! Acontece, não é? Quem nunca deveu algo pra alguém?! Estas pessoas são um tanto quanto... Ignorantes, se é que você me entende, e eu tive que deixar a grandiosa Atlan para salvar minha própria vida e eu pensei: "Ora, qual seria o lugar ideal para recomeçar minha carreira política?! Em Firelands, é claro! Grandiosa Nação de Fogo!" Eu tinha certeza de que me receberiam da melhor forma possível! - Se Malak olhasse para o lado, veria o olhar de ódio que Seeje desferia para Lince. Sentia que se já tivessem inventado armas de fogo, Seeje seria o primeiro a atirar naquele homem. Lince continuou, como sempre continuava:

- Então eu peguei a primeira caravana, tive que enganar algumas pessoas pra conseguir a passagem. Hey, quem nunca enganou alguém, certo?! Cheguei na gloriosa Firelands e quando tentei angariar alguns escravos, eles quase me bateram! Acredita nisto?! Para piorar, fiquei sabendo que aquelas pessoas ignorantes estão vindo até Firelands para me pegar! Mas que ultraje! Eu, um homem do bem e do povo! Resumindo, minha Magnânima Campeã da Verdade Flamejante, eu apenas desejo de vossa senhoria proteção contra estes bárbaros de Atlan e alguns escravos, se não for pedir muito. Ahh, e também um cargo político junto ao regente. Como é mesmo o nome dele? Fyron. Dylon. Não importa. Estamos combinados?! - Terminou de falar, com o sorriso mais falso que alguém pode dar.

Malak

- Sim, Seeje. É exatamente isso que eu quero. Todo território que Pyron abandonar terá minha proteção. Mais soldados, mais aliados, mais influência. Além disso, pessoas honestas e trabalhadoras não merecem sofrer com a violência de saqueadores. Não é justo. - respondeu-o antes de ouví-lo chamar o dito Evans.

Observou a entrada do homem e já não fez uma boa expressão muito satisfeita ao ouvir aquelas perguntas feitas a ele mesmo. Cruzou os braços assim que Seeje chamou a atenção do homem, suspirando impaciente. Mas ouviu em silêncio o que o homem tinha a dizer, a tentar explicar, ainda tentando simpático mas apenas piorando tudo um pouco mais. Seeje já deveria saber que a escravidão não era algo aprovado por Malak.

- Ah sim! Vejo como era bom com seus escravos! Apenas dez chibatadas? É muita bondade, Lince Evans. - respondeu cinicamente, calando-se em seguida para continuar ouvindo. Malak ainda olhou Seeje, igualmente insatisfeita.

Estava impressionada com o discurso e a "cara de pau" daquele político com seus argumentos e pedidos. Escravos? Um cargo político? Passou a mão pelo rosto após um suspiro pesado e impaciente. A primeira audiência havia sido tranquila, com um propósito real e válido. Mas agora ouvir tudo aquilo havia sido suficiente para drenar um resto de paciência que possuía.

- Senhor Evans… Eu cederei, sim, um lugar para que fique aqui em minhas terras. - olhou Seeje, dando a ele as honras para prender aquele homem com a brutalidade que desejasse. - Prenda-o, Seeje. E dê a ele o "melhor" quarto na masmorra. - voltou-se a Evans, sorrindo. - Será uma honra entregar tamanho verme ao governo de Atlan. Saiba, Lince, que o povo de Firelands é livre. Não possuímos escravos, nunca permitirei que tamanha barbaridade manche a história das terras flamejantes. Envergonha-me que alguém como você tenha pensado que eu concederia asilo político. E ainda me enfurece o fato de ter tentado angariar escravos e que peça a MIM cargo político junto a Pyron e alguns escravos. Enoja-me!

Permaneceu sentada no trono, sentindo o sangue ferver. Pelo menos, quem sabe, poderia conseguir alguma aliança com Atlan, algum acordo em troca de Evans. Aguardava que o homem fosse levado para conseguir se acalmar outra vez e tratar da terceira e última audiência.

Parte 18

- Com prazer. - Respondeu Seeje, fazendo sinal a alguns soldados, que prontamente cercaram Lince. Seeje ordenou então: - Levem-no até uma cela do último corredor da masmorra. Foi feita na reconstrução do castelo. Tenho certeza de que apreciará uma cela totalmente nova, senhor Evans. A honra de ser o primeiro prisioneiro nela poderia ser dada apenas a políticos de seu prestígio. - O homem então se assustou e disse:

- O quê?! Não! Você não pode fazer isto! Espere, ouça! Podemos negociar! Eu posso lhe dar muito dinheiro! Não tenho aqui comigo, mas... Não! - Ao ver que suas súplicas não adiantariam, Lince passou a fazer ameaças vazias: - Apenas espere, Malak Nawar! Eu sou uma figura importante de Atlan! As autoridades saberão disto! Você arrumou briga com o reino errado!

- Tirem logo este verme daqui! - Gritou Seeje, enquanto os soldados retiravam Lince da sala com certa truculência.

Alguns servos ouviram o que Malak disse sobre o povo de Firelands ser livre. A escravidão deliberada não existia em Firelands, já que todo flamejante que se preze se recusa a ser escravizado. Pyron, entretanto, sempre comandou através da força e do medo, o que acaba sendo praticamente a mesma coisa. Ouvir de Malak que o povo era livre agradou os servos e apenas confirmou a postura da campeã. Aqueles que serviam no castelo já o faziam por vontade própria e a notícia da atitude justa da Senhora das Chamas se espalharia por todo o reino.

Seeje respirou fundo, assim como Malak ao se acalmar, e remexeu os papéis mais uma vez, dizendo:

- Muito bem. Última audiência, graças à Grande Chama. Mandarei trazer um martelo de guerra especialmente para esta, Senhora. Sempre quis saber quantos protestantes consigo esmagar com apenas um golpe. Eu chamo à sala do trono a senhorita Delana, líder do movimento "Firelands Para Quem". - Seeje fez uma pausa depois de ler o nome do movimento. Seu silêncio dizia tudo. Continuou em seguida: - Senhorita Delana, você está em audiência com a campeã de Firelands. Apresente sua petição com respeito e brevemente.

Uma mulher adentrou a sala e parou diante da escada do trono. Era da raça flamejante e, a julgar pelo vermelho de seu corpo, seus olhos e a textura de sua pele, era bem jovem. Seus trajes eram bem diferentes do que a maioria dos habitantes do reino usava. Ela começou a falar então, apontando os degraus do trono à sua frente:

- Para quê um trono ostensivo residindo em um nível superior aos demais? Um símbolo de sua soberania? Por que concentrar todo o poder e decisões em uma só pessoa, Malak Nawar? O meu movimento defende uma Firelands livre e para todos. Veja o que o domínio de Pyron nos trouxe. Apenas morte, destruição, guerra. Os boatos são de que você será a próxima regente. De que forma o seu domínio será diferente do de Pyron? Sai um tirano e entra mais um tirano! Nada mudará!

Malak

- Sim, eu POSSO! Eu não admitirei escravocratas em Firelands. E claro! Devolver um ladrão devedor ao reino que o persegue realmente fará esse reino um inimigo de Firelands. Somos um povo livre, Lince. Veio buscar asilo nas terras erradas. - gesticulou para que o levassem logo, aguardando em seguida até que o retirassem da sala.

- Veremos o que conseguiremos em troca desse lixo, apesar de que eu acredite que não valerá 1 peça de latão. Eu, pelo menos, deixaria apodrecendo na masmorra de Atlan alguém daqui com tal comportamento. Angariar escravos! Veja lá! Dinheiro emprestado, posto ao lado do "regente"! - esbravejava em tom alto por alguns instantes a mais. - Nele você deveria testar o martelo, Seeje!

Observou a mulher caminhar até o início das escadas e já apontar "erros". Precisou suspirar profundamente antes de dedicar a Delana alguma atenção a mais. Malak levantou-se e desceu todos os degraus até estar no mesmo nível que a representante. Olhou-a, inclinou a cabeça um pouco para o lado e suspirou de novo. A voz estava outra vez calma ou pelo menos aparentava estar.

- Firelands É livre e É para todos. Pyron rege pelo medo e por meio da força, subjulgando o povo de Firelands pela escassez de alimento, segurança e condições de vida. E eu não sou Pyron. E, Delana… Em que momento eu disse que concentrarei todo o poder em minhas mãos? Teria sido mais adequado se chegasse menos armada, menos cheia de si. Poderia apenas ter perguntado minhas propostas? - andou um pouco mais, cruzando os braços. - Serão eleitos conselhos, um por região. Ouvirei seus planos, aspirações e necessidades. Terei a assistência de algumas pessoas: do povo, do exército, dos poderes. Poderia ser a representante do povo, Delana. Mas claro… Se me apoiar. Firelands, sob minha regência, terá recursos, alimentos, alianças. Teremos paz. E o trono? Os degraus? Soube que o castelo foi destruído durante uma tentativa de invasão? Que os homens sob meu comando deteram com sucesso, sem qualquer auxílio de Pyron? Pois bem. Não sobrou nada disso aqui. Foi reconstruído pelo povo de Firelands e eles fizeram os degraus, o trono. Eu não pedi, não exigi, não ordenei. Recusar seria… rude. - voltou a parar diante dela. - Mas não preciso estar lá em cima para conversar com você ou qualquer outro habitante da nossa nação. De Firelands.